domingo, 27 de março de 2016

O debate como ponto de mutação

Uma das questões que permeou a educação brasileira na última década foi a discussão acerca do ensino de Filosofia e Sociologia no Ensino Médio, finalmente resolvida em 2008, com a decisão pela obrigatoriedade do ensino das matérias. Os defensores de tal medida se manifestavam tendo como base a necessidade de situar o aluno em relação ao mundo a seu redor, permitindo que ele refletisse sobre questões essenciais da vida em sociedade e assim tivesse uma formação humanista, enquanto seus detratores diziam que ambas as matérias poderiam ser ensinadas no decorrer de outras disciplinas, sem haver a necessidade de estender ainda mais a carga horária dos estudantes. O fato é que, independente do lado escolhido ou da argumentação utilizada, pela primeira vez foi colocado em pauta a Filosofia e a Sociologia como instrumentos para a vida prática dos cidadãos.

Embora muitos ainda prefiram acreditar que tais áreas do conhecimento sejam apenas uma “completa abstração”, uma parcela considerável da população atual já tem em mente que, sem recorrer a pensamentos ou questões já levantadas por grandes filósofos e sociólogos, é impossível pensar de forma racional as questões da contemporaneidade e, consequentemente, intervir nelas.  É justamente desta pauta que trata o filme “Ponto de Mutação”, dirigido em 1990 por Bernt Capra, em que uma física, um poeta e um político passam uma tarde apenas utilizando as mais variadas visões de mundo para entenderem o mundo a seu redor.

À medida em que os três protagonistas da obra adentram questões mais complexas, como o ambientalismo, o conservadorismo e o uso político da ciência, eles vão questionando não só o mundo em que habitam, mas também à si próprios, em um processo de autoconhecimento que os encaminha até a própria essência da natureza humana. Sonia, a física, por exemplo, passa a questionar a finalidade de todo seu tempo de dedicação científica; o político Jack, a possibilidade de se efetivar todo o seu idealismo político; e o poeta Thomas, se não seria mais um escapista como considera os seus colegas.


Dessa forma, voltamos ao debate acerca da Filosofia e Sociologia, pois percebemos que, mais do que mecanismos para dar sentido ao universo, são mecanismos para darmos sentidos às nossas próprias vidas e à forma como compreendemos a vida em si (vide as sequências finais do filme citado). Sem questionar e indagar, nossa própria vida passa a ser guiada quase que de forma automática, sem aquele ponto de mutação que muitas vezes precisamos para conseguir enxergar os elementos de um mundo tão dinâmico e complexo.

Luiz Antonio Martins Cambuhy Júnior
Direito Matutino - 1º Ano

Nenhum comentário:

Postar um comentário