sábado, 12 de março de 2016

Descartes no Mundo Onírico do Método Cartesiano

Era um daqueles momentos únicos na vida de alguém. Todos olhavam para ele e ele olhava para todos. Parecia que o mundo inteiro parou naqueles segundos, que seriam os finais de sua vida. “Veritas filia temporis”, ele pensou. Um dia tudo isso valeria a pena. Um dia ele seria visto como um visionário, um mártir, um Deus na terra do conhecimento. E isso tudo o confortava.
O inquisidor chegava com sua tocha. Seu destino acabaria ali em meio àquele barulho de pessoas gritando seu nome com tanta voracidade e ódio que chegava a ser ensurdecedor. Sua fogueira estava acesa e a vida ia se esvair aos poucos, de forma lenta e sufocante. Tentava pensar que a dor não era importante, que os outros estavam errados, que conseguiria materializar-se tal qual eram seus pensamentos: tornar-se-ia luz ainda na terra.
Mas o calor ia chegando, cada vez mais forte, cada vez mais cortante, cada vez mais doloroso. Já não podia mais ignorá-lo, tinha vontade de gritar e gritou como nunca antes em sua vida, era seu grito de liberdade. Libertar-se-ia desse mundo em que a paixão vencia a razão. Seria só pensamento, seria a lógica posta. E ainda naquele momento duvidava: o método estava correto, qual variável faltou?
Silêncio, noite escura como ébano. Estava encharcado de suor, sentia-se perdido. Então não era verdade? Não, não era verdade! Havia sonhado e que sonho horrível. Seu maior pesadelo havia se tornado real nessa noite, o pesadelo que não poderia se tornar real em seu destino. Balbuciou a última coisa que havia pensado em seu sonho “o método estava correto, qual variável faltou?”. Isso tinha um significado, era a racionalidade lhe apontando o que faltava para que sua obra estivesse completa. Acharia a solução, o método era infalível. Não seria Galileu afinal de contas, fugiria das acusações, não precisaria negar sua descoberta. E ali, naquele momento, começou a escrever a quarta parte de seu discurso mais famoso.

Larissa Lotufo- 1º ano- Direito Noturno

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