domingo, 13 de março de 2016

Da dúvida e do direito em tempos de cólera.

Descartes, em sua obra “O discurso sobre o Método”, datada de 1637, propõe um sistema (ou método) quase matemático para encontrar uma verdade universal, em outras palavras, livres de senso comum ou falhas. Durante a obra ele expõe e exalta a razão, ou melhor a autoridade da razão, confrontando os antigos e suas verdades eclesiásticas imutaveis, convidando-nos a duvidar; Em todo o momento os questionamentos mostram-se importantíssimos nessa busca, desse modo, indagando o homem medieval, anterior a ele, e estimulando uma centelha de curiosidade no homem da idade moderna, da qual ele participava. A centelha de curiosidade talvez já tivesse existido em outros tempos, a indagação faz parte do homem enquanto ser racional, contudo, alguns poucos ousaram utiliza-la de modo que provocasse uma metamorfose na sociedade, como fez Galileu, Newton ou Gandhi, por exemplo.

O homem de hoje, dito “ultra-moderno”, que já está inserido no capitalismo, tem uma oferta imensa de facilidades, informações, ferramentas e tudo mais que a tecnologia pode oferecer, este homem já está acomodado ao fato ser mero reprodutor de informações, viver como gado e não ser possuidor de sua própria identidade moral, afinal, deixa que outros pensem e executem por ele, seja pela tela da TV, pelos livros com viés puramente ideologicos, pelo que ouviu falar na mesa do bar, ou seja, acaba rendendo-se ao senso comum e com ele tecendo uma trama de paixão, chegando à metade do caminho, portanto, encontrando apenas meia verdade, não questionando por completo.

Para este que vos escreve, Descartes não quis dizer nada menos que isso: “não sejam acomodados”, instigando-nos a buscar sempre a verdade, valendo-se da razão para tal. O homem do século XXI tem um prejuizo moral imenso ao deixar-se levar por retórica barata e não duvidar por completo, extirpando um ponto x quando algo não lhe convem ou fere sua fantasia, buscando apenas “meia verdade” (caso isso seja possível) e pior ainda: quando não aceita a dúvida de outrem, encarado-a como crítica ou perseguição, os tempos de cólera pela qual passa o nosso país leva-nos ao extremismo e imobilidade, justamente os preceitos combatidos por Descartes, portanto, a duvida deve ser o ponto de partida e de chegada, o acelerador e o freio, deve ser o deleite e a consternação, enfim, deve ser o modus operandi de nossa caminhada.

Victor Hugo Xavier, 1 ano Direito – Noturno.

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