sexta-feira, 29 de maio de 2015

Fato Social e Individualidade



            Émile Durkheim pode ser considerado o grande defensor do estabelecimento de um método para a ciência da sociedade – quando escreveu As Regras do Método Sociológico ele certamente se preocupava com o fato de que a nova ciência, a ciência da sociedade, não tivesse sido absorvida pelo meio acadêmico. Ele constatou que o que faltava à Sociologia era credibilidade, que poderia ser obtida quando existissem maneiras de separar o objeto de estudo do sujeito que o estuda. Assim, Durkheim propôs algo revolucionário: que os fatos sociais fossem considerados como coisas, de forma a tornar sua relação com o cientista social o mais impessoal possível, fornecendo confiabilidade. Feita tal constatação, coube a Durkheim então discorrer acerca do fato social propriamente dito.
            Para o sociólogo, tratava-se de fato social todo acontecimento que independesse do indivíduo, tendo como fundamento as ações do homem inserido na sociedade de acordo com as regras sociais, que sobre ele exercessem coerção, ou seja, tudo aquilo que condicionasse de forma coercitiva a conduta do indivíduo e independesse dele. Basicamente, toda a vivência humana era guiada pelo fato social. O que ficou evidente, no entanto, quando Durkheim tratou desse assunto é que se extinguia aí a possibilidade de existência de uma individualidade humana, ou seja, se a sociedade está repleta de fatos sociais e o homem é movido por eles, movido por influências, embebido no contexto social, então nada do que ele faça se desvincula da sociedade, nenhuma de suas ações é própria e individual; tudo está envolvido em uma atmosfera global e pública.
            Surge aí o embate entre a ideia do fato social e a individualidade do homem – Durkheim afirmou que era possível sim que os indivíduos agissem de forma singular e característica, mas que isso raramente ocorria. Para ele, normalmente as pessoas eram condicionadas pela sociedade ao seu redor a agir de determinadas maneiras, e mesmo quando pensassem estar fazendo algo revolucionário, apenas estariam novamente deixando-se influenciar pelos meio sociais ao seu redor. Ao contrário do liberalismo, que posicionava o homem como motor das transformações, como impulso da sociedade, a sociologia passou a disseminar a ideia de que todos os progressos e mudanças sociais eram frutos de ações coletivas, e não individuais.

            O posicionamento de Durkheim certamente gerou discussões, discordâncias e debates, e não sem motivo: elemento essencial de grande parte das sociedades, especialmente capitalistas, a individualidade humana foi questionada de forma sem precedentes. O fato social assumiu a posição de contestador de toda uma ideologia, e há que se dar crédito a tal contestação – quantas das ações, pensamentos, condutas e comportamentos não poderiam ser explicados de acordo com a perspectiva de coercitividade social? Sem dúvidas, é uma questão discutível e duvidosa, especialmente porque leva à reflexão sobre toda a existência humana. 


Heloísa Ferreira Cintrão
1º Ano - Direito Diurno

Uma ideia que não está na cabeça

   Émile Durkheim, considerado um dos principais nomes da Sociologia, voltou seus estudos para algo além do que o positivismo oferecia. Em sua obra As regras do método sociológico, o sociólogo francês defende a ideia de que é preciso elaborar devidamente um conceito antes de colocá-lo em prática, ou seja, deve-se primeiramente trabalhar na ciência das ideias para depois aplicá-las na realidade social. Além disso, Durkheim procurou explicar a fundo o que passava na sociedade, separando o sujeito dos fenômenos sociais, como se analisasse os ramos de uma árvore, sem que se deixasse influenciar pelas paixões, sendo neutro. Enfatizou também a análise dos fatos sociais, trazendo o indivíduo para a periferia do mecanismo social, pois o considerava imerso dentro deste.
   É notável a grande importância dada pelo sociólogo a uma análise coletiva e não individualista dos fatos sociais, não valorando ou julgando-os, pois sua observação tem em vista a perspectiva do analisado e não do analisador, e isso impede erros e anacronismo.
   Como o indivíduo de Durkheim encontra-se diretamente influenciado pelo que se  passa na sociedade, aquele que se diferencia do grupo provoca o desequilíbrio, pois há casos em que ocorre a perda de identidade cultural do indivíduo dentro do todo, de modo em que a subversão dos valores transmitidos por esse sistema pode levar à coerção social e à anomia. Exemplos dessa resistência cultural podem ser vistos nos movimentos de contracultura, como o movimento punk, em que pessoas que não se identificam mais com os costumes ou até mesmo com o regime político, passam a buscar a diferenciação, através das roupas, atitudes ou até músicas, daqueles que se submetem ao sistema, sendo um exemplo máximo desse movimento a banda Sex Pistols. Outro exemplo é verificado atualmente no Brasil, em que alguns índios não se vêem mais parte da tribo indígena que fazem parte ou mesmo da sociedade brasileira. De fato, o sistema capitalista promove a individualidade da pessoa em detrimento de algum pensamento coletivista, pois é mais rentável o egoísmo dentro desse sistema. Assim, é evidente que a pessoa, alienada pela mídia capitalista, tende a julgar aqueles que destoam do determinado. Inclusive, a coerção social é verificada até mesmo na consciência do indivíduo quando este deixa de se portar como o considerado “normal”, implicando em uma penalidade moral, por exemplo. Para Durkheim, toda a opinião que perturbasse seria inimiga, o que geraria coerção, entretanto, essa coerção social não implicava necessariamente na negação da personalidade do indivíduo.
   Desse modo, a notabilidade do coletivo na visão de Durkheim é de grande valia, pois o individuo é moldado pelo que é oferecido pela sociedade e a partir disso tirará suas próprias conclusões acerca diversas coisas, como uma análise ideológica. Todavia, essa coletividade teria de elaborar opiniões semelhantes, consideradas normais dentro do padrão estabelecido, pois tem como objetivo o  equilíbrio da sociedade, que seria mantido através da fiscalização pela coerção social. Assim, a ideia de Durkheim não está propriamente na cabeça, na consciência, mas presente na observação dos fatos para posteriormente houver a aplicação na realidade.

Lara Costa Andrade – 1º ano de Direito (Diurno)
Introdução à Sociologia