segunda-feira, 10 de agosto de 2015

Quem é a vítima?

 Sandro, o menino da chacina da candelária, ou o assassino do sequestro do ônibus 174? A compreensão do agir de um indivíduo vai dimensões além da própria ação em si: há uma conexão de sentido.
            Sandro Barbosa do Nascimento é um dos milhares dos meninos da rua de nosso desigual contexto sócio-econômico. Sua mãe foi assassinada a sua frente por facadas aos 8 anos de idade. Como esperar que as consequências de tal trauma não se manifestem? Menino das ruas não tem sessões de psicólogo duas vezes à semana. Menino das ruas convive com a fome, com o frio, com a necessidade. Menino das ruas não dorme em colchão de mola. Se não dorme na praça, é debaixo da ponte ou da igreja, confiando que ali será uma noite com o mínimo de conforto ou na falsa ilusão de dignidade. Menino da ruas não espera que o BOPE (Batalhão de Operações Policiais Especiais) invada seu “quarto” e faça uma “limpeza” banhada aos panos de sangue.  Menino das ruas não tem Playstation de recreação; o seu lazer é a fuga: do pó, à pedra e da pedra, à cola. Se o que Sandro criança teve foi a miséria e a morte, é morte e miséria que o Sandro adulto refletirá.
            Seu juízo de valor foi pautado em qual estrutura concreta? Qual a base familiar de Sandro? Qual o nível de escolaridade de Sandro? Como ser tão hipócrita de esperar um comportamento dentro dos padrões da sociedade sendo que durante toda a sua vida Sandro viveu à margem e à invisibilidade dessa mesma sociedade?  Como exigir de Sandro o cumprimento do Art. 3o  “Ninguém se escusa de cumprir a lei, alegando que não a conhece”, das Leis de Introdução às Normas do Direito Brasileiro?
            12 de junho de 2000 é quando o episódio se concretiza. Sandro aborda o ônibus da linha 174, à mão armada, no jardim botânico e faz 10 reféns. Ao efeito de psicóticos associados a todo o seu passado, o tratamento ao indivíduo deve ser pautado através de uma análise que tenha sua ação como emocional ou passional, não como algo dotado de racionalização e objetivação.
            Ao fim, Sandro Barbosa do Nascimento morreu de “morte matada”, como diria João Cabral de Melo Neto, por asfixia dentro de uma viatura. Sandro é mais um Severino. Sandro não é Brás Cubas. O tipo ideal matou Sandro. 
Giulia Dalla Dea Vatiero
1º ano - Direito Diurno

Nenhum comentário:

Postar um comentário