segunda-feira, 10 de agosto de 2015

Lisístrata e a teoria de Max Weber

Cleonice – Então essa coisa que faz você se virar tanto deve ser o máximo!
Lisístrata - É sim, e a salvação da pátria depende do apoio das mulheres à minha idéia.
Cleonice – Das mulheres? Fraco apoio...
Lisístrata – Fique certa de que o destino do país está em nossas mãos. Se falharmos a pátria estará perdida, será destruída por tantas lutas fratricidas. Mas se nós, as mulheres, nos unirmos, as mulheres de todos os rincões da Grécia, o país estará salvo.”
Lisístrata, Aristófanes.

    A comédia grega Lisístrata de Aristófanes foi escrita em 411 a.C.. Nela, com a intenção de acabar com a guerra entre as cidades Estado, as mulheres se propõem a fazer uma greve de sexo e assim convencer os homens a dar fim ao conflito.
    Embora caracterizada por ser uma comédia e ter passagens que levem ao riso, Lisístrata possui uma enorme crítica social à guerra e também esclarecedora quanto a condição da mulher na Grécia Antiga, de algumas formas subvertendo o senso comum de que por não serem cidadãs, as mulheres não possuíam conhecimento. É uma peça na qual se faz valer e observar a interdependência de ações sociais, pois numa concepção weberiana, toda ação social é interdependente de outra ação social.
    A greve de sexo, por exemplo, nas palavras da própria Lisístrata, é a certeza de salvação da pátria. Ou seja, em sua ação social – social, pois tem como objetivo a resposta de outros indivíduos da sociedade – e nas das demais mulheres, há um motivo e um objetivo em vista, que têm como ponto de conexão, como agente social, as próprias mulheres. O motivo seria a guerra feita pelos homens e o objetivo, acabar com essa guerra. Fica evidente também a interdependência das ações, pois a ação social dos homens, o fazer guerra, o conquistar territórios, seria afetado pela ação das mulheres.
    O foco da greve de sexo não é, somente, apenas desagradar a vontade dos homens, mas também enfatizar a importância das próprias mulheres na composição do povo grego, seu empoderamento. Afinal, se não houvesse sexo, nem mulheres, não haveria gravidez e portanto, nenhum novo indivíduo que pudesse substituir os homens mortos na guerra ou nas cidades. A greve portanto, vai além e decreta a possibilidade de extinção do povo grego. O fim da cultura grega. São inúmeras etapas de composição de uma ação social, que reflete em inúmeras outras ações.
    Para Weber, o indivíduo age guiado por seus motivos, que podem ser os mais variados; sua cultura e suas tradições. E o cientista, por mais que tente ser durkheimianamente neutro, sempre adotará uma perspectiva em sua análise, e portanto, produzirá uma explicação parcial da realidade. Um mesmo acontecimento pode ter causas econômicas, políticas, religiosas; todas ao mesmo tempo. No caso da guerra entre cidades estado gregas, as mulheres não analisaram quais os motivos a levaram a acontecer, mas consideraram apenas sua existência e uma forma de finalizá-la.
    Há também outra passagem em Lisístrata, na qual as mulheres ocupam a acrópole de Atenas e se auto-instituem cuidadoras do Tesouro. Cuidando do dinheiro lá guardado, as mulheres tem por objetivo impedir que esse seja usado para fazer guerra, administrando-o e garantindo a segurança dos homens, mesmo contra a vontade deles. Essa ação pode ser configurada como uma ação racional com relação a fins, pois cuidar do dinheiro evitaria que ele fosse utilizado para a guerra. Também pode ser usada como uma ação afetiva, pois as mulheres rompem com a tradição a fim de impedir que a guerra continue e seus maridos e filhos morram. Weber acredita que as ações sociais são causadas por múltiplos fatores e que o indivíduo não age apenas conforme uma delas, mas conforme várias delas ao mesmo tempo, misturadas. Os homens participarem da guerra, por exemplo, é uma forma de ação tradicional e alguns cidadãos tentarem impedir que as mulheres ocupassem a acrópole, por exemplo, é um exemplo de ação racional em relação a valores, pois aos valores daqueles indivíduos, as mulheres não poderiam cuidar do dinheiro público (argumento rebatido por Lisístrata durante a peça).
    A comédia Lísistrata, portanto, pode ser analisada de diversos pontos pela teoria weberiana, inclusive os tipos de dominação. As relações políticas de poder e dominação, divididas em dominação legal, tradicional e carismática, são, por exemplo, expostas respectivamente na autoridade conferida aos ministros e comissários da peça, que argumentam com as mulheres para por fim à greve e à guerra; na passagem de episódios onde as mulheres relatam submeter-se às ordens dos maridos dentro de casa e na própria autoridade que Lisístrata assume durante a peça, convencendo mulheres gregas de diversas cidades-Estado a aderirem à greve.
    Aristófanes, portanto, através de (propositalmente) uma comédia, faz uma crítica à guerra na sociedade grega e expõe que por trás de um motivo aparentemente pueril há uma grande reflexão sobre o papel dos indivíduos na sociedade, a importância do pensamento reflexivo e a ação organizada com objetivos. Justamente por tais características, Lisístrata pode ser tão bem comparada à teoria weberiana, teoria esta composta essencialmente pela reflexão e ponderação sobre toda e qualquer ação social individual, que Weber acredita ser a concretização das normas sociais.

Mariana Ferreira Figueiredo
1º ano de Direito (Diurno)
Introdução à Sociologia - Aula 10

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