quinta-feira, 16 de julho de 2015

Do The Evolution


A música "Do The Evolution" da banda estadunidense Pearl Jam conta em sua letra e seu videoclipe a história da humanidade a partir de uma visão bastante crítica. Apesar de tratar de diversos aspectos e diversos momentos da história da humanidade abordados na música, a crítica feita por Eddie Vedder (autor da música e vocalista da banda) coincide com a crítica marxista quando fala do capitalismo ou de aspectos do capitalismo que estiveram presentes ao longo da história.

Dessa forma, é possível inferir aspectos presentes no Manifesto Comunista de Marx e Engels a partir de uma análise da letra traduzida e do videoclipe de "Do The Evolution". É importante lembrar que a música foi escrita em meados da década de 1990, quando a Guerra Fria havia acabado de chegar ao fim após um longo período com o mundo polarizado entre o bloco capitalista alinhado aos Estados Unidos e o bloco comunista aliado a extinta União Soviética.

Eu estou a frente, eu sou o homem 
Sou o primeiro mamífero a usar calças
Estou em paz com a minha luxúria
Eu posso matar porque em Deus eu confio
É a evolução, querida.

Na primeira estrofe da música, é retratado no videoclipe o início da evolução a partir da formação do mundo (usando a teoria do Big Bang) e logo dos seres humanos. A letra trata da autoimagem que o homem tem como um ser dominador - o que também é mostrado no vídeo, no qual fica evidente o espírito de competição e a defesa humana dos próprios interesses (ou seja, o individualismo, traço fundamental do capitalismo que é criticado por Marx e Engels no Manifesto).

Além disso, aqui também cabe outra crítica marxista, mas agora com relação a religião. Ao dizer que "a religião é ópio do povo" em Crítica a filosofia do direito de Hegel, Marx fala do uso que é feito da crença religiosa, usada para convencer as pessoas a aceitar o sofrimento terreno. Ele defende que a própria crença religiosa é criada como uma reação a injustiça, mas acaba sendo instrumentalizada pelas classes dominantes para manter a submissão das classes oprimidas. Na música, Eddie Vedder faz uma referência ao momento medieval das Cruzadas, que provocou muitas mortes "em nome de Deus". Tanto a crítica marxista quanto a da música são ainda bastante atuais: ficam evidentes nas "guerras santas" promovidas por grupos fundamentalistas no Oriente Médio e no norte da África e em atitudes dos fanáticos evangélicos na política brasileira.

Eu estou em paz, eu sou o homem 
Comprando ações no dia da quebra
À solta, eu sou um trator
Todas as colinas eu vou aplanar, é
É a evolução, querida.

A segunda estrofe começa, tanto na letra quanto no vídeo, com referências a quebra da bolsa de valores de Nova York e a consequente Crise de 1929. Pode-se dizer que aqui se faz uma crítica ao "capitalismo selvagem" - termo que Marx utiliza em O Capital para tratar do momento da Primeira Revolução Industrial, no século XVIII (mais uma vez, a crítica marxista se faz bastante atual, seja para a crise de 1929 ou pro contexto contemporâneo).

Nesse momento, o clipe também faz referência ao estado nazista: cabe lembrar aqui que tanto a Primeira quanto a Segunda Guerra Mundial são consequências direta ou indiretamente do modelo capitalista de produção, considerando a necessidade de expansão constante de mercados que motivava o neocolonialismo. Além de mostrar a doutrinação promovida pelos estados totalitários no século XX, a música retrata as atrocidades cometidas ao retratar um campo de concentração.

Admire a mim, admire o meu lar
Admire o meu filho, ele é meu clone
Esta terra é minha, esta terra é livre
Eu faço o que quiser, mas irresponsavelmente
É a evolução, querida.

Antes do início da terceira estrofe da letra, o vídeo faz referência a Revolução Francesa a partir da guilhotina. Marx reconhece no período das revoluções o caráter revolucionário da burguesia, que foi capaz de romper com o sistema estamental feudal e a dominação arbitrária do absolutismo. A partir daí, a burguesia liberta o potencial produtivo do qual o homem é capaz. Mas a burguesia faz isso para si mesma, enquanto a ideia marxista era que a classe operária formasse uma consciência coletiva de que é necessário estender isso a todos os grupos indistintamente. Apesar dessa superação, a própria música demonstra que em outros momentos da história as conjunturas econômicas do capitalismo - a partir de uma perspectiva marxista - levaram a dominações autoritárias e arbitrárias. Além disso, nesses regimes, as tão caras liberdades individuais (tal qual a liberdade de expressão) para a democracia-liberal (desenvolvida pela burguesia para que o sistema político se adequasse aos seus ensejos econômicos), foram fortemente suprimidas, deturpando o sistema que as motivou.

A letra também fala, nesse momento, sobre a propriedade privada, um dos principais fundamentos da sociedade burguesa e, por conseguinte, da democracia liberal e do capitalismo. Enquanto Marx identifica na propriedade privada o surgimento da desigualdade social, muitos dos textos liberais a defendem como um direito natural do homem, cuja proteção é o objetivo final (senão o único) do Estado. Burke, por exemplo, chega a defender que mesmo a desigualdade social é fruto da natureza humana e que não há porque lutar contra ela, em sua crítica a Revolução Francesa, no qual também ironiza o ideal de liberdade citado no texto.

Um elemento interessante que não aparece na letra da música, mas que é retratado no clipe, é a exploração dos escravos na construção dos grandiosos monumentos da antiguidade. Mostra também cruzes sendo vendidas, já que tornaram-se símbolos da religião católica - criticando novamente a religião (que ganha, como tudo, um caráter mercadológico no capitalismo) e o individualismo.


Admire a mim, admire o meu lar
Admire o meu filho, admire minhas roupas
Porque nós sabemos, tenho apetite para banquete noturno
Esses índios ignorantes não conseguem nada de mim 
Nada, por quê?
Porque... É a evolução, querida.

Finalmente, a letra da música referencia a importância do status dentro do capitalismo, que substituiu os privilégios hereditários dos estamentos medievais pelos privilégios a elite industrial e financeira, de acordo com cada um dos momentos do capitalismo - mais uma evidência do caráter revolucionário da burguesia. Trata também do "apetite" humano, com o qual pode ser feito um paralelo com a constante necessidade de expansão de mercados e aumento na geração de lucros do capitalismo. Finalmente, referencia os índios, principais vítimas do primeiro momento de expansão capitalista e de uma espécie de globalização primitiva nas Grandes Navegações do século XV.

Eu estou a frente, eu estou avançado
Eu sou o primeiro mamífero a fazer planos
Eu rastejei pela terra, mas agora eu sou mais alto
2010, veja tudo pegar fogo
É a evolução, querida!
Faça a evolução.



Heloisa de Maia Areias
1º ano de Direito - diurno

2 comentários:

  1. Qual é a relaçao dessa música com a revoluçao industrial

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  2. Nos mostra parte dos avanços e retrocessos dentro dos regimes políticos no mundo.

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