domingo, 5 de julho de 2015

A solução para Engels

Vários atributos contribuíram para transformar “Do socialismo utópico ao socialismo científico” no segundo texto marxista mais lido pelos trabalhadores do mundo inteiro - atrás apenas do Manifesto do partido comunista. Basta folhear esta pequena obra-prima do maior colaborador de Marx para perceber que não é um mero texto de vulgarização. Engels, em resumo, historia como e por que o socialismo se transformou em ciência. Para tanto, recupera os grandes pensadores socialistas que precederam o marxismo - Saint-Simon, Fourier e Owen. Destaca sua contribuição à crítica do capitalismo, mas também as limitações de suas doutrinas, que continham intuições às vezes geniais mas careciam de alicerces sólidos.
Os socialistas utópicos, como ficaram conhecidos dedicaram seus principais esforços a conceber como seria uma sociedade futura, nova, avançada, próspera, fraterna, racional, livre dos males do capitalismo. Descreveram-na minuciosamente, e tanto Fourier como Owen chegaram a tentar levá-la à prática, em escala experimental. Já Marx e Engels seguiram o caminho inverso. Pouco se ocuparam em detalhar a sociedade do futuro, descrevendo-a apenas em seus traços mais gerais. Todos os seus estudos tiveram como foco a sociedade do presente. Trataram de entender o capitalismo, reconstituir seu nascimento e sua trajetória, expor seus mecanismos secretos de funcionamento, estudar suas contradições e as forças sociais que o protagonizam.
Engels localiza, dentro do próprio desenvolvimento capitalista, as contradições que abrem caminho para o socialismo. A produção é social, e socializa-se sempre mais, enquanto a apropriação é privada, e concentra-se a cada dia em um círculo mais reduzido de grandes burgueses. Desta contradição básica nasce o antagonismo entre as duas classes fundamentais da sociedade moderna, o proletariado e a burguesia. O socialismo é então, para Engels, um percurso incontornável da história e não uma obra do gênio humano. É o produto necessário da luta entre as duas classes formadas historicamente. A história natural para o filósofo é o “espelho da dialética”, estando em uma transformação permanente. O instrumento científico para a transformação é o materialismo dialético, operando em favor da ruptura. A cientificidade do “novo socialismo” estava em decifrar as leis históricas e as contradições inerentes ao capitalismo, sendo, a principal delas, a mais-valia, o principal mecanismo de exploração da classe trabalhadora. Mais de um século depois de escrita, a análise de Engels impressiona pela atualidade. Ali está a explicação dos verdadeiros motivos econômico-sociais do chamado desemprego tecnológico. 


Thais Amaral Fernandes
1 ano Direito Diurno 

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