segunda-feira, 1 de junho de 2015

Sobre Durkheim, ovos e farinha

          Ao fim do século XIX, em uma época em que a Sociologia se consolidava como ciência, o sociólogo Émile Durkheim propôs em sua obra As Regras do Método Sociológico que o objeto de estudo ideal de sua área seria o fato social. Sua importância se dá devido a crença do autor de que a compreesão de toda a organização social residia no entendimento do fato social, o qual ele definiu como “coisa”, dividindo-o em 3 aspectos: a força coercitiva, a exterioridade e a generalidade.
          A força coercitiva é manifestada por sanções, as quais podem ser de cunho legal ou espontâneas. As primeiras são previstas por conceitos que tem por base leis, com penalidades previamente definidas, e podem ser exemplificadas no caso em que um indivíduo é multado por excesso de velocidade de um veículo por um órgão maior, encarregado da manutenção da ordem naquele setor específico. Já a sanções espontâneas são aquelas que não acarretam  problemática legal, nem são oriundas de nenhuma lei proibitiva relacionada: são respostas  a condutas consideradas “inapropriadas”, em um conceito totalmente relativo aos costumes, cultura e história da sociedade em questão. Ou seja, ainda que não haja prevenção legal contra algo praticado por um indivíduo, o grupo ao redor dele pode se manifestar negativamente face à seu ato, punindo-o. Assim, por vezes, as sanções espontâneas, mesmo que de caráter mais informal que as legais, possuem um efeito mais perceptível e poder de coerção maior do que uma lei propriamente dita.
          A exterioridade leva a ideia de que o fato social é exterior ao indivíduo, além de preexistí-lo e ter influência sobre ele involuntariamente. Segundo Durkheim, as pessoas nascem aceitando concepções anteriores a elas sem mesmo questionar-se dos motivos que levaram a aceitação daquelas padronizações e ideais. Por exemplo, a ideia de que rosa é uma cor preferível  para meninas e azul para meninos, ou de que meninas usam vestido e meninos brincam de carrinho são ideias pré-concebidas e para as quais raramente são impostas qualquer questionamento. Assim, estar sujeito ao fato social não é opção do indivíduo, é automático.
          A generalidade explica que o fato social se repete na grande maioria dos indivíduos, em sociedades distintas e em tempos diferentes. O autor vê a generalidade como possuidora de valor coletivo, podendo ser exemplificada na moral, no humor e nos costumes de um grupo.

          O posicionamento de Durkheim em seus relatos em As Regras do Método Sociológico foi razoavelmente criticado por seu extremo pragmatismo aplicado na compreensão do indivíduo e da origem das motivações que regem as atitudes do ser humano. Pois, se levada a cabo a ideia do sociólogo, muito da identidade humana fica comprometida pela existência do fato social, uma vez que a personalidade - algo individual, em tese - é basicamente descrita como uma mera compilação de efeitos (legais, espontâneos, gerais e exteriores) que rondam os indivíduos, tirando-lhes qualquer controle de ação e opção sobre o que são ou desejam ser. Dessa forma, há uma expressiva perda da complexidade das características humanas, reduzindo o homem a algo como o resultado de uma receita pronta, como um bolo: pode ocorrer variação no sabor, se houver a mistura de ingredientes distintos,  porém salvo isso, a forma e o interior sempre terminam de maneira semelhante e nada inédita.


Nicole Vasconcelos Costa Oliveira 
1º ano - direito diurno

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