domingo, 31 de maio de 2015

Sobre a coerção e os fatos sociais: é possível fugir do padrão?

As badaladas do relógio, encontrado numa grande torre no centro das cidades, regem a vida das pessoas e são, há séculos, instrumento indireto de coerção da sociedade. Cada badalada do sino define toda a trajetória do dia: hora de acordar, almoçar e, principalmente, a hora de trabalhar, sendo definida pela sociedade capitalista, assim, a mentira secular de trabalhar para viver e a rotina angustiante de viver para trabalhar.
David Émile Durkheim (1858-1917), considerado por muitos o pai da sociologia, estudava a sociedade a partir do recurso metodológico de ver como “coisas” os fatos sociais, que são aqueles que independem do indivíduo e tem como substrato o agir do homem em sociedade de acordo com as regras sociais. Durkheim acreditava que ideias pré-existentes em nossas mentes afetam a análise dos fenômenos da sociedade, por isso estes devem ser tratados como coisas.
Um aspecto de grande importância no estudo de Durkheim é a análise dos fatores coercitivos que levam as pessoas a se enquadrarem em determinados moldes da sociedade: devem seguir a moda, respeitar as leis e agir de determinada forma. É da natureza humana a busca por fazer parte de um grupo, mas essa coerção social ultrapassa os limites sendo que cria um imenso deserto criativo de ações e de ideias. Durkheim defende que a maioria de nossas ideias não são criadas por nós, mas são abstraídas do exterior, da sociedade e dos padrões já definidos.
Durkheim defende que “a escola é o aparelho ideológico do Estado”. Pode-se compreender esta afirmação analisando o funcionamento das escolas atualmente: são impostas às crianças maneiras de ver, de agir e pensar que não são naturais, sendo, assim, muitos talentos e grandes ideias oprimidas. As instituições são manipuladas para manter o status quo e perpetuar o poder de quem governa.
Um exemplo mais visível de coerção da sociedade pelo Estado é seu monopólio da violência com o uso de força policial. Atualmente, pode-se notar dois aspectos das ideias de Durkheim analisando a manifestação de professores neste ano no Paraná, os quais foram agredidos por força policial com balas de borracha e bombas: a força policial representa a força de coerção que rege os comportamentos da sociedade, mas a manifestação em si representa um fato social e um problema que existe há muito tempo no Brasil. A reivindicação por melhores salários e condições de trabalho refletem a realidade vergonhosa da educação brasileira, a qual desvaloriza seus professores e usa métodos de ensino que não visam um desenvolvimento da mente e das ideias de seus alunos.
Não há criação, tudo está pré-estabelecido pela sociedade e quem foge de seus padrões pode ser considerado louco. O potencial racional é condicionado pela coerção, a mesma que impõe a verdade absoluta que não pode ser refutada. Durkheim falava, em sua época, na coerção social, mas provavelmente não imaginava que atingiria patamares tão altos sem nem ser notada pelas pessoas. É possível fugir dos padrões? 

Alexandre Bastos
1º ano - Direito Diurno
Introdução à Sociologia - Aula 5

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