segunda-feira, 4 de maio de 2015

O poeta, o político e a cientista

“Quero te contar que o oceano sabe isto: que a vida, em seus estojos de jóias, é infinita como a areia incontável...” – Pablo Neruda

Um fluxo de indagações. Assim se passa o filme Ponto de Mutação de 1990, dirigido por Bernt CapraPersonagens que se encontram em um momento de escolhas e indecisões, partilham do conhecimento, fraquezas e dúvidas sobre mundo.
Jack Edwards, um político candidato a presidência dos Estados Unidos, vai com seu antigo redator de discursos, o poeta Thomas Harriman à Mont Saint-Michel, na França. Durante a estadia, encontram a cientista Sonia Hoffman, esta que, surpreendentemente, conhece o poeta, mas não é tão ciente da influência que Jack tem. Com uma série de perguntas sobre a vida, a história, o passado, os três personagens passam o filme sob a luz da busca de conceber respostas sobre diversos assuntos e obter a verdade em seus argumentos sobre discursos atuais, como uma visão mecanicista sobre o tempo e o homem, utilizando metáforas e argumentos embasados em grandes filósofos e escritores como Descartes, Bacon, William Blake e Pablo Neruda, por exemplo.
A complexidade desses argumentos mascara a simplicidade das questões abordadas, pois estas se voltam contra nós mesmos todos os dias, e há essa incessante batalha em se decifrar e determinar tudo o que ocorreu e ocorre ao nosso redor. Assim como Kit, a filha da cientista, revolta-se com o alheamento da mãe, esta que apenas fala dos problemas do mundo com base nos próprios problemas, nós temos essa tendência em observar a sociedade com o olhar que a vida nos molda. Seria o ceticismo do político a forma certa de ver o mundo? Seria a visão analítica da cientista a correta? Ou seria a visão poética do escritor? É impossível afirmar uma verdade sobre qual é a melhor visão, pois todas elas se entrelaçam e fazem com que haja uma disputa devido à disparidade dessas visões. Assim como “nenhum santo sustenta-se só”, essas visões não existem separadamente, coexistem, necessitam uma da outra para existir, pois a vida é maior que tudo isso, “a vida sente a si mesma”. Desse modo, os personagens ajudam-se mutuamente ao expor seus pontos de vista, fazendo o outro sair da zona de conforto e buscar a confrontação, algo que na atualidade as pessoas não almejam, pois preferem se restringir na comodidade do bem comum a defender seu argumento fervorosamente.
O Ponto de Mutação, além de filme é a experiência se expressando na arte, é a dúvida que persiste na consciência dia após dia, é a metáfora da epifania do poeta, do político e da cientista, é a epifania de todos nós. É a vida.


Lara Costa Andrade
1º ano de Direito(Diurno) – Filme: Ponto de Mutação

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