segunda-feira, 11 de maio de 2015

Meus, Seus e Nossos Ídolos

O inglês Francis Bacon (1561-1626) rompe com a perspectiva escolástica – corrente de pensamento cristã apoiada pela Igreja até a Idade Média – e revoluciona com um novo método de pesquisa. Aquela doutrina imposta pelo clero conferia um caráter filosófico aos princípios religiosos e embutia um ideal de “providência”: Deus governa todo o universo. Para Bacon, o labor dos filósofos antigos se assemelhava ao das aranhas: magníficas teias de saber, mas sem proveito para o homem. O predomínio da fé em detrimento da razão impedia o progresso da ciência, pois essa perspectiva imaginária não resistia à experimentação. 

Em 1620, com o livro Novum Organum (“Novo Instrumento”), Bacon marca oposição às obras sobre lógica de Aristóteles, reunidas sob o nome Organon. Para o filósofo inglês, a essência do conhecimento seria alcançada pela observação dos fenômenos da natureza a partir do método empírico indutivo. A contemplação, meditação e divagação dos antigos dariam lugar à análise, investigação e contestação do “Novo Instrumento”. Assim, Bacon estabelecia as bases para a ciência moderna e submetia o conhecimento humano ao bem estar do homem. 

O ingresso nessa nova ciência se daria afastando a fixação pelos conceitos vigentes, que mascaravam e deturpavam a realidade. Para Bacon, essa falácia intelectual podia ser classificada em quatro grupos, que ele chamou de “Ídolos”. Ou seja, noções falsas que idealizamos e que bloqueiam o conhecimento objetivo e útil. 

Os “Ídolos da Tribo” sujeitam os homens à generalização e ao viés dos eventos favoráveis. Confraria de pensadores que se fortalece corroborando as mesmas ideias e percepções dos integrantes do grupelho. Para Bacon, “o intelecto humano é semelhante a um espelho que reflete desigualmente os raios das coisas e, dessa forma, as distorce e corrompe”. 

Os “Ídolos da Caverna” resultam da própria educação e da influência dos costumes à época, implicando em uma ótica extremamente particular. Fatos diversos oriundos de exames alhures são acidentes, jamais identidades. Os pensadores se tornam prisioneiros da escuridão da caverna e refratários às manifestações de outras análises. Bacon recorre a Heráclito, para o qual “os homens buscam em seus pequenos mundos e não no grande ou universal”. 

Os “Ídolos do Foro” vinculam-se às distorções no uso da linguagem. Seus adeptos insinuam-se no intelecto graças ao linguajar técnico e à deturpação dos significados; fundamentam-se na adjetivação dos fenômenos e se acobertam na ambiguidade gerada. Na concepção de Bacon, “as palavras, impostas de maneira imprópria e inepta, bloqueiam espantosamente o intelecto”. 

Por fim, os “Ídolos do Teatro” amparam-se às teorias em voga sem contestá-las. Os adeptos mesclam sua filosofia com a teologia e a tradição amparada pela fé. Bacon assevera: “não pensamos apenas nos sistemas filosóficos, na universalidade, mas também nos numerosos princípios e axiomas das ciências que entraram em vigor, mercê da tradição, da credulidade e da negligência”. 

A seu tempo, Bacon fundou os alicerces da ciência moderna, mas até hoje nos deparamos com esses “Ídolos”. Seja no próprio desenvolvimento intelectual ou na investigação das teorias alheias, tendemos a eleger nossas crenças. Disposição orgulhosa que afeta nosso intelecto e tardia o progresso da humanidade. Derrubemos nossos “Ídolos”.

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