quinta-feira, 7 de maio de 2015

Desserviço à ciência.

Em O Ponto de Mutação, filme sob a direção de Bernt Capra, distintos pontos de vista são apresentados para refutar ou corroborar com a ciência moderna. Sonia Hoffman, uma cientista norueguesa no ramo da física quântica, tece fortes críticas à visão cartesiana de mundo, a taxando de restrita e dizendo que dividir o objeto de estudo em partes menores acaba com a "real essência das coisas". Tal visão, aos olhos da ciência 25 anos após o lançamento do filme, mostra-se como meramente especulativa e de pouca utilidade. A tão referida "conexão das coisas naturais" já é contemplada pela ecologia e ganha sua máxima expressão na genética ecológica. Por outro lado, Sonia demonstra seu ímpeto de culpabilizar abstrações, como o conceito de sociedade (lembremo-nos de Fernando Pessoa: "A única realidade social é o indivíduo, por isso mesmo que ele é a única realidade. O conceito de sociedade é um puro conceito; o de humanidade uma simples ideia. Só o indivíduo vive, só o indivíduo pensa e sente"). Sonia também comete erros crassos ao dizer que a criatividade atua com um papel primário na evolução biológica, mostrando sua sanha em confrontar sem oferecer nenhuma visão realmente sólida, ou ao especular sobre o transcendente, o tomando como fato irrefutável, se esgueirando do problema mente-corpo que permanece em aberto nos campos da metafísica e filosofia da mente. Em suma, Sonia padece do mesmo mal de Rousseau, que, ante uma realidade desfavorável - problemas familiares e inconstância psicológica, com Rousseau abandonando seus cinco filhos e Sonia tendo problemas ao lidar com sua filha - projeta no mundo a benevolência que não existe dentro deles.

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