quinta-feira, 7 de maio de 2015

Conexões da ciência, da filosofia e da vida

Baseado na obra "The Turning Point", 1983, do austríaco Fritjof Capra, o filme "Mindwalk", 1990, dirigido por Bernst Capra incita a discussão em torno do conhecimento humano, balizada por conceitos de vida, moral, realização pessoal, desenvolvimento e futuro da humanidade. 

Os protagonistas escolhidos para essa temática ampla são o político frustrado Jack Edwards com sua postura pragmática; a desiludida cientista Sonia Hoffman, de visão multidisciplinar e racional e; o realizado poeta Thomas Harriman. O ambiente desse enredo não poderia ser melhor: o Monte Saint-Michel, França. O vilarejo medieval reúne a arquitetura aguda da abadia e fortes que cercam essa pequena porção de terra. Diariamente, a natureza manifesta sua exuberância através das marés, que inundam o charco e transformam o cenário em uma ilha. O homem resiste às contrariedades e interfere no ambiente hostil; a natureza se revela inflexível. 

Da observação dos engenhos por trás do relógio da abadia, os personagens evocam a ideia de que a hora exibida não é mais o tempo da natureza em nós; trata-se apenas do tempo mecânico, que marcou a ruptura do homem com a natureza. Para Descartes, o corpo dos animais poderia ser ilustrado como uma máquina; o do ser humano, talvez, como a mais sofisticada das máquinas até então: o relógio. Os personagens observam esse "homem" preciso, mas desconecto do mundo. 

Nesse novo período, as crenças cederam lugar ao método, à experimentação, à observação e às teorias científicas, que deveriam ser aplicadas para o bem do homem e na investigação de novos fenômenos. O conhecimento humano foi expandindo fronteiras e se acumulando como em uma caixa de ferramentas que, quando necessário, se abre para ser útil. 

Para Sonia, essa visão mecanicista sob os fenômenos naturais e os seres vivos foi positiva ao estabelecer o alicerce para o desenvolvimento das ciências. Desafios foram lançados e alcançados pelos cientistas; a vida na Terra melhorou. Mas, para Sonia, a ciência patrocinada foi corrompida pela ganância dos homens e colocada a serviço dos interesses econômicos. 

Os políticos, que poderiam alterar essa conjuntura, apenas reforçam o posicionamento econômico ao se alinharem ao capital, afinal, conhecimento é poder. Jack dá exemplos corriqueiros da aplicação científica em benefício dos homens e tenta defender a cooptação dos políticos pelo mercado, mas não responde à persistente dúvida da cientista: o que será das gerações futuras? Já que "os sistemas não encorajam a prevenção, só a intervenção". 

O poeta Thomas serve como um mediador nesse debate acerca do futuro da humanidade e promove a integração do raciocínio científico com a filosofia na vida mais pragmática. Ele evidencia, sobretudo, a possibilidade de que é possível alterar a trajetória da humanidade. Thomas é exemplo de alguém que teve a iniciativa de transformar o curso da própria vida ao abandonar o que lhe tolhia e buscar o novo; mesmo que não venha a encontrá-lo, a investigação lhe trouxe a realização de se descobrir. 

Sonia entende que uma nova visão de mundo é necessária para garantirmos o (novo) desenvolvimento e preservarmos a vida na Terra. Apesar de conceitos tão consolidados como o que os corpos interagem e trocam energia entre si, a relação desconexa entre a cientista e sua filha Kit denota para a necessidade de nos desvendarmos para manter o que é importante para nós: a vida. 


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