sexta-feira, 15 de maio de 2015

A consolidação do positivismo e suas influências

Em 1848, a chamada Primavera dos Povos marcou a Europa – a disseminação de uma série de movimentos revolucionários liberais pelo continente caracterizou um momento de puro fervor social. Na época, não existia qualquer ciência que fosse responsável pelo estudo do comportamento da sociedade e, por esse motivo, não havia maneiras práticas de compreender ou interferir nesses acontecimentos. Foi diante de tal constatação que Augusto Comte, filósofo francês, criou as bases da física social, uma ciência positiva fortemente embasada na análise da sociedade real, tal como ela era.
            O positivismo, forma como é conhecida essa ciência social, foi amplamente disseminado pela Europa e pela América – pela primeira vez a sociedade era foco de estudo e análise formal e racional. A grande aceitação às ideias de Comte ocorreu também devido a um ideal contido em sua proposta: progresso. Tal progresso, segundo o pensador, só poderia ser atingido por meio da obtenção da ordem social – ou seja, seria preciso que a coletividade estivesse em harmonia e equilíbrio para que progredisse. Em um período de pleno fortalecimento do capitalismo, era tentadora a ideia de fazer uso de instrumentos sociais que pudessem sempre conduzir a sociedade ao amplo desenvolvimento, especialmente no sentido industrial.
            A grande questão é que Comte possuía uma concepção amplamente meritocrática da ideia de ordem. O positivista acreditava que para que a sociedade estivesse em pleno equilíbrio e harmonia e pudesse, portanto, seguir rumo ao progresso, ela deveria ser rigidamente hierarquizada, no sentido de que cada indivíduo cumprisse o papel social que lhe cabia. Isso significa que, para o positivismo, seria essencial que sempre existissem aqueles que exercessem as funções intelectuais e aqueles que exercessem as funções técnicas - caracterizando o darwinismo social, a ideia de que alguns indivíduos, por serem mais capacitados, devem atuar em atividades de maior destaque do que outros, que seriam menos capacitados.
            Por tratar do progresso sob tais perspectivas, o positivismo acabou por influenciar até mesmo o neocolonialismo – a justificativa de que se levava racionalização e desenvolvimento aos povos explorados foi, afinal, abundantemente empregada pelos países exploradores, embasada pela ideia de superioridade étnica. Ainda atualmente, dada sua grande incorporação, a ciência positiva comtiana está ativa na sociedade – o Direito positivado, por exemplo, restringe sua atuação às normais e leis, despindo-se da observância dos valores e causas profundas.
            Com isso, é possível concluir que a racionalização da sociedade proposta por Comte foi extremamente influente à época, como ainda o é nos dias atuais – apesar de admitir-se que o positivismo foi interpretado de muitas maneiras controversas, e nem sempre éticas ou justas, não se pode negar a imensa contribuição comtiana para as ciências sociais e humanas, para a concepção dos homens como seres sociais, para processo de emancipação do conhecimento e o desenvolvimento das sociedades contemporâneas.


Heloísa Ferreira Cintrão
Direito Diurno - 1º ano.

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