segunda-feira, 20 de abril de 2015

Descartes e o poder do saber

Foi a dúvida sobre o funcionamento do organismo humano que levou à criação da medicina no período Renascentista, assim como os questionamentos sobre o passado e comportamento do homem originou o estudo da História ao longo dos séculos: do conhecimento do senso comum ao conhecimento erudito, uma máxima da ciência é a dúvida como motor para novas e importantes descobertas sem as quais as perspectivas humanas ficam limitadas e obsoletas. É diante dessa temática ainda muito atual que René Descartes fundamentou seu Método Científico em busca de certezas indubitáveis, inaugurando, assim, a “nova” filosofia a qual procurava.
Para tanto, após anos de isolamento e análises, o método cartesiano foi construído,  essencialmente a partir de quatro regras: (1-evidência) nunca aceitar como correto aquilo sobre o qual não houver total clareza; (2-análise) decompor cada problema em quantas partes mínimas forem necessárias para solucioná-lo; (3-síntese) ir do mais compreensível ao mais complexo para a solução; e (4-enumeração) revisar completamente o processo para assegurar-se de que não ocorreu nenhuma omissão. Tais regas obedeciam impreterivelmente à “dúvida metódica”- instrumento primeiro de Descartes para obtenção de certezas- que consiste em questionar todos os conhecimentos e certezas já consolidados, inclusive a da própria existência. No entanto, vê-se que em todo questionamento há pelo menos uma certeza: a da existência da própria dúvida, que só se materializa diante da razão de um ser pensante. Dessa forma, é possível afirmar que a dúvida é a garantia concreta da existência do homem e que a razão é fundamental para isso, o que Descartes conclui na célebre frase “Penso, logo Existo”.
                Com isso, o sociólogo defende a corrente do Racionalismo, condenando a erudição tradicional livre de dúvidas, o conhecimento do senso comum (demasiadamente pautado no hábito), a filosofia, que é tão pouco pragmática e, principalmente, o conhecimento transmitido pelo hábito ou pelas experiências. Além disso, crê que a reconstrução do conhecimento não se faz com uma ruptura radical das crenças antigas e sim por meio de uma “moral provisória” na qual seria fundamental seguir três máximas: respeitar as leis e costumes de seu próprio país, ser determinado em suas ações e sobrepor a “vontade do mundo” diante da vontade própria.
Sobre essa última – mais uma colocação atual de Descartes- percebe-se análise de que apenas o pensamento e a razão são inatos e intrínsecos ao homem e que todas as vontades próprias, portanto, deveriam estar subjugadas. Dessa forma, não é natural do ser humano afeiçoar-se por algo diferente disso, como bens materiais, o que consistiria no segredo de felicidade de muitos filósofos que se contentam em viver para contemplar o pensamento. Novamente, há exaltação do pensamento e da razão como caminho da verdade e da felicidade, que na pós-Modernidade se materializa primordialmente no “saber é poder”; e todos ainda buscam, assim como Descartes, o saber que supera a certeza da dúvida em todas as áreas do conhecimento.

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