domingo, 19 de abril de 2015

Cogito ergo sum: a dúvida hiperbólica e o racionalismo cartesiano.

É necessário que ao menos uma vez na vida você duvide, tanto quanto possível, de todas as coisas.” René Descartes.

Nascido em 1596, René Descartes vivenciou o período chamado de Revolução Científica, onde se consolida a separação de ciência e filosofia. Marcada pela Renascença, a sociedade da época encontrava-se mais cética a respeito da possibilidade de um conhecimento genuíno.

Nesse contexto sociocultural, o britânico Francis Bacon publica seu Novum Organum, propondo um novo método para a ciência, baseando-se principalmente no raciocínio dedutivo e em aplicações práticas. Descartes apreciou muito a obra de Bacon pela intenção de expandir o conhecimento e a investigação do mundo. Contudo, discordou fortemente do método estabelecido por Bacon. Assim, em seu Discurso do Método, Descartes apresenta suas ideias para a construção de uma nova forma de organização científica do conhecimento.

Com o objetivo de tornar suas crenças estáveis, Descartes então estabelece o método conhecido por “dúvida hiperbólica”, deixando de lado toda e qualquer ideia cuja verdade possa ser contestada. Ao submeter suas crenças a argumentos cada vez mais céticos, Descartes “salva” apenas duas: Deus e a matemática. Isso porque seriam as únicas crenças cabíveis no conceito de “inatismo”, ou seja, ideias naturalmente nascidas à mente dos homens.

Tal ideal de inatismo traduz a profunda confiança de Descartes na razão ou bom senso, que seria um bem universalmente partilhado dentre os homens e responsável por todo conhecimento seguro. Dessa forma, inaugura a corrente filosófica conhecida por Racionalismo, que viria a ser a oposição à corrente filosófica que Bacon já se enquadrava, o Empirismo.

 A grande questão que Descartes enfrentara ao adotar a dúvida metódica como instrumento de verificação do saber, contudo, seria sua própria existência. Como provar que a existência é real? Santo Agostinho, no início do século V, afirmara em sua obra De Civitate Dei (“A Cidade de Deus”) ter certeza de sua própria existência, pois, se estivesse errado, isso em si provaria sua existência. Ou seja, para estar errado é preciso existir. Por essa mesma lógica – mesmo que desenvolvida distintamente – Descartes supera esse bloqueio e formula a primeira certeza do método: “Penso, logo existo”, fundamental para sua investigação.

O rigor metódico e a reverência pela razão constituem o maior legado do autor. Muitos dos filósofos que o sucederam tiveram em suas ideias traços marcadamente cartesianos, como Bento de Espinosa e Gottfried Leibniz. Mesmo Immanuel Kant, que um século depois refutava Descartes, adota a primeira certeza cartesiana como cerne e início de seu idealismo transcendental em Crítica da Razão Pura. 

Lívia Armentano Sargi
1° ano - Direito (diurno)
Introdução à Sociologia, aula 2.


Nenhum comentário:

Postar um comentário