domingo, 19 de abril de 2015

Avanço da luz racional. Retrocesso da luz divina?


Este texto tem como objetivo traçar um pequeno corte temporal da influência religiosa na ciência e sociedade em duas fases e seu divisor - aqui focado no trabalho do filósofo francês René Descartes - e sua relação com o novo equilíbrio de forças da nossa sociedade.
Fé e razão foram e são temas abordados por diversos pensadores. Na Idade Média - principalmente devido à importância do poder clerical - a relação entre esses conceitos foi extremamente debatida até que São Tomás de Aquino alcançou uma conciliação entre fé-razão que seria adaptada à ordem religiosa; para ele, não haveria conflito entre elas, já que são concepções divinas complementares, com a primeira guiando à segunda (ou seja, o caráter religioso e espiritual ainda possuía supremacia em relação ao caráter propriamente humano, mundano e temporal). Esta supremacia não significava uma negação ao conhecimento humano, proveniente de sua razão, apenas o limitava, pois não era perfeito.
 A ordem estabelecida parecia estável, porém a filosofia cartesiana representaria uma ruptura no pensamento vigente. Sua filosofia contrapôs-se à da cultura medieval (das reinterpretações de Aristóteles e dos preceitos de Tomás de Aquino - a Escolástica) que ditava o pensamento da época. A união entre teologia e filosofia (fé-razão) foi questionada e esta última ganhou certa, não total, autonomia.
  Descartes simboliza - junto com outros filósofos - a ascensão racional; para ele, ao contrário de Bacon que também contribuiu para a formulação do método científico, concluído pelo francês, os sentidos não constituem caminho para o conhecimento, devendo ser questionados; a razão, o pensamento para René Descartes é o verdadeiro caminho para a sabedoria. A dúvida torna-se premissa para o "saber”. A constante racionalização do problema, a experimentação e a observação finalizam a base de seu pensamento. A burguesia, que ganhava cada vez mais força, começa a se identificar com esse enfoque filosófico; ainda mais ao relembrarmos que Descartes também acreditava que a natureza poderia ser compreendida e transformada conforme a vontade humana e em seu favor; ou seja, percebem-se nele bases para o Iluminismo e Positivismo, linhas seguidas e cultuadas posteriormente pelos capitalistas.
 As idéias cartesianas foram adaptadas e a influência divina antes questionada começou a ser refutada, principalmente com o advento de Freud e Nietzsche, este que prega a "morte de Deus", aquele propondo o abandono da religiosidade na ciência e na própria sociedade. Os avanços científicos proporcionados pela chegada de Descartes e principalmente pelas novas ideias que surgiram baseadas nos seus conceitos, mas não necessariamente fielmente adeptas a eles, conduziram a sociedade ocidental ao domínio burguês, do cientificismo e do racionalismo. Porém, posto que uma sociedade precisa - para manter sua integridade – de uma ordem, um equilíbrio, a excessiva radicalização de um extremo gera a necessidade de uma força para contrapor esse peso demasiado – como numa balança. Assim como na Idade Média a extrema religiosidade dominante teve como contraponto ideais racionais, atualmente esses encontram novas ondas de essência espiritual – desconsidera-se aqui grupos de islamismo radical ou de outras religiões orientais menos expressivas, já que não foram influenciados, pelos menos diretamente pelas ideias e conceitos expostos aqui, as regiões que os comportam.
Contraditoriamente, os avanços tecnológicos sugerem novos mundos onde a razão não parece se encaixar: as teorias quânticas, de mundos subatômicos em que Leis de Improbabilidade são concebidas, onde a certeza dá lugar à incerteza e ao “talvez”. Logo, essas e outras descobertas levam a separação entre “eu” e o “mundo” colocada por Descartes e o conceito de que a razão é o único meio de se alcançar sabedoria à serem indagados. Questionamos quem nos ensinou a questionar. Buscamos na fé novas respostas.
Surge então um dilema: seria o surgimento de Descartes o indício de uma nova era dominada pela razão –de alcances infinitos ou destinada a estagnação- ou de cíclicas eras em que fé e razão se alternam?
                                                                                   
                                                                                                        Roan M. Chimello Dias
                                                                                                        1º ano - Direito Diurno
                                                                                                        Introdução à Sociologia - Aula 2

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