segunda-feira, 5 de maio de 2014

  Um movimento denominado pelos organizadores como "rolezinho" vem chamando a atenção da população brasileira, por ser alvo de discussões acerca de liberdades individuais e o abismo entre classes econômicas. Este apartheid moderno já é conhecido pela maioria; não somente por parte da classe mais abonada excluir as classes mais baixas, mas também a auto-exclusão destas, por motivos (além de econômicos) culturais. "Vem com a minha cara e o 'din-din' do seu pai, mas no rolê com nós 'cê' não vai. Nós aqui, vocês lá, cada um no seu lugar, entendeu?" canta o grupo de rap Racionais Mc's, que representa em suas músicas a realidade da periferia paulistana. Neste trecho se observa a clara separação entre classes, já aceita por ambas as partes como algo natural e intuitivo.
A heterogeneidade da população brasileira, tanto étnica quanto econômica, é herança histórica que vem sendo superada aos poucos. Cada vez mais se propaga o ideal de repúdio ao racismo e preconceitos no geral, mas os rolezinhos acabaram por mostrar um outro lado da história: a crença na superioridade cultural e a imiscibilidade da população da periferia em centros econômicos onde predomina a classe média. Letras de funk defendendo a ostentação material, roupas que caracterizam este estilo, gírias... A definição estereotipada dos cidadãos que frequentam os rolezinhos todo mundo já sabe. Esta manifestação popular tem incomodado a população das classes média e alta, considerando inaceitável este tipo de comportamento em "ambientes familiares".
  A hipocrisia definitivamente tomou conta das discussões nacionais. Dizem inaceitável um funk defendendo a ostentação, enquanto a maioria da população trabalha pra manter seu status econômico, valorizando os bens materiais. Não são aceitos bonés, correntes, camisas que forjam marcas famosas, enquanto a classe média se veste com artigos feitos por mão-de-obra abusiva e/ou infantil. A população mais carente há tempos iniciou sua busca pela igualdade. O símbolo da camiseta de 300 reais ostentada pelo empresário pode ser encontrado em camisetas de 30 reais nas galerias. O local onde só se encontrava brancos e ricos agora está tomado por negros e pessoas mais pobres. A ascensão da cultura da periferia incomoda simplesmente pelo egoísmo, pela mentalidade mesquinha de quem se julga culturalmente superior.
  O argumento de que os jovens estão tumultuando é puro pretexto. Estudantes de universidades particulares tomam conta de ruas com suas festas regadas a drogas, música alta e muitas vezes com atos sexuais em público. A baderna desta classe não é tão grave assim? A cultura e população periférica invadiram as ruas, as festas, os shoppings, as rádios e as redes de televisão. Quem sabe com o tempo também tomem conta de universidades, empregos bem remunerados, e qualquer coisa monopolizada pelos mais ricos.
  A busca pela igualdade só incomoda aqueles que estão acima da média.

Bruno Henrique Marques - 1º ano Direito noturno

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