domingo, 20 de abril de 2014

Extremismos, “doutores Frankenstein” e “monstros da ciência”.

Madrugada escura. Tormenta e trovões. Doutor Frankenstein trabalha em seu laboratório obcecado com seu projeto: reanimar tecidos mortos a ponto de encontrar a centelha da vida. Não encontrou limites para seu objetivo. O fim justificava todos os seus meios, seja a violação de covas em busca de material orgânico humano, seja o descaso com a ética científica, seja seu desligamento com vínculos sociais. Sua mente fora tomada por um frenesi patológico de modo a não descansar até ver seu experimento concluído. O resultado, porém, fora algo que lhe causou repúdio imediato: ao contemplar o que havia criado, uma criatura grotesca feita a partir da somatória de diferentes corpos, mas com força sobre-humana, seu espírito logo arrefeceu por instantâneo arrependimento. O “monstro” é deixado ao relento e, apesar de apresentar comportamento inicialmente dócil, é rebaixado e aviltado pela própria sociedade, voltando-se contra ela.
A história (não tão fictícia assim) ilustra o descaso e a despreocupação humanas que muitas vezes nos levam a ansiar pelo advento desenfreado da ciência, sem, contudo, nos preocuparmos com suas consequências. Auguste Comte e sua corrente filosófica do positivismo preconizam o “amor por princípio, a ordem por base e o progresso por fim”, configurando-se como uma extensão da necessidade de ampliar as fronteiras do conhecimento científico iniciados por Descartes e Bacon. De fato, sua teoria analisa de modo preciso a construção da ciências nas sociedades. Não obstante, sua teoria deve ser interpretada com cuidado, sem tomar considerações extremistas, como ela uma vez servira de embasamento para a dominação afro-asiática durante o neocolonialismo, por considerar esses povos “menos desenvolvidos que o homem europeu”.

 A busca pela verdadeira ciência despojada de impressões subjetivas deve respeitar a dignidade humana. O positivismo deve estar livre de extremismos e sim regado pelo relativismo cultural e pela consideração da ética, ainda que almeje a imparcialidade e desenvolvimento científicos. Deve criar uma ciência pura, mas tenha consciência de suas consequências monstruosas. A humanidade, conforme evidenciado pelas recentes notícias da descoberta de um planeta com potencialidade de abrigar vida, está prestes a fazer um possível contato com outras formas de vida. É então que se constata a necessidade desses cuidados e o direito como regulador desse ímpeto intelectual, para que evitemos extremismos, “doutores Frankenstein” e “monstros da ciência”.

Carlos Eduardo Milani Neme - 1º ano de direito matutino (Turma XXXI)

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