terça-feira, 1 de abril de 2014


Amarguras de boteco 

São em situações como essa que eu começo a me perguntar por quê raios fui escolher ser professor. Sexta-feira. Última aula do dia. Ah, como tenho azar, nada como ter a bendita última aula da sexta-feira. Não sei se meus alunos olham para mim ou para o relógio que, pesadamente, custa a mostrar uma hora diferente. Acho que nenhum professor merece ter essa aula. É como passar uma hora inteira falando com cabeças vazias e apressadas, que só estão ali para não ganhar “falta” na chamada. Acho que vou pedir uma dose da “branquinha”. Faz tanto tempo que não nos encontramos. Meus vinte e cinco anos lecionando me fizeram ter uma certeza: a permissividade e a passividade desses jovens só crescem. Não sei. Acho que a capitalização do ensino também. Aposto que se eu fizer um comentário do tipo “cai na prova/vestibular” todas aquelas cabeças voadoras voltam para o mesmo mundo que eu e tentam prestar atenção em alguma coisa. Uma hora inteira de aula e nenhuma pergunta. Nenhuma. Como conseguem acreditar tanto no que eu falo? Ninguém pergunta a utilidade, a origem ou até mesmo o por quê de estarem aprendendo aquilo. É impossível que nenhuma alma daquela sala não tenha nenhuma indagação ou observação a fazer. É impossível também que uma pessoa como eu, barriguda, barbuda, desleixada e um tanto calva, transmita tanta confiança a ponto de ninguém duvidar do que eu falo. Não sei se eu posso chamar isso de desinteresse. Pode ser preguiça. Ou desinteresse mesmo. Acho que é isso, talvez. Só queria saber onde foi parar o senso de meus alunos. A curiosidade. A desconfiança. A prevenção. Mas acho que eu só queria mesmo. No momento, a única coisa que eu quero é a minha dose da “branquinha”. Faz tanto tempo que não nos encontramos.

Yanka Leal - 1º ano- Direito noturno

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