quinta-feira, 4 de abril de 2013

Essa ordem ainda oferece progresso?


                   “O real frente ao quimérico, o útil frente ao inútil, o certo frente ao incerto”. Eis uma forma concisa de se enunciar o Positivismo de Augusto Comte. Autor esse que propõe uma nova abordagem para a interpretação da sociedade, permitindo a manutenção da ordem e o alcance do progresso, em meio a uma época marcada pela Revolução Industrial e por acontecimentos sociais inéditos.
                Defensor do entendimento das leis que regem a sociedade aqui e agora, Comte coloca o entendimento das leis básicas como objeto fundamental do positivismo, pois para ele a busca das causas é insolúvel. Esse objeto fundamental é escolhido visando o contínuo desenvolvimento, contudo não é a única necessidade para se alcance a “ordem e o progresso”. Para que esse seja realmente alcançado também é necessária a execução de uma reforma no sistema educacional, para que se rompa com o isolamento das ciências, afinal, como afirma Comte, a filosofia positiva exige a combinação de várias ciências.
                Some-se a isso a necessidade de reorganização da sociedade moderna para que se crie um ambiente propício a aplicação e sucesso do método positivista. Na sociedade plenamente positivista cada individuo tem seu papel social rigidamente definido, e qualquer revolta causada pela ambição de executar um outro papel é negativa por ferir a ordem.  
                Conclui-se, portanto, que uma sociedade positivista é normalmente mais rígida as naturais mudanças que ocorrem ao longo do tempo, por acreditar que essas, ao ferir a ordem, sejam plenamente negativas. Fecham-se os olhos a uma nova ordem que pode gerar muito mais progresso do que a atual. Certamente, o positivismo serviu a sociedade por muito tempo, permitindo avanços incontestáveis, contudo, um positivismo extremo pode ser prejudicial e incoerente com a sociedade do século XXI, que assim como a da época em que Comte dissertou sobre sua teoria,  é marcada por acontecimentos sociais inéditos.

                                                   Paulo Henrique Reis de Oliveira – Direito Diurno

Estudo da Sociedade


            Buscando entender a sociedade em que vivia, Augusto Comte propõe a formação de uma nova ciência, a Física Social (que mais tarde passou a ser chamada de Sociologia), baseada em uma Filosofia Positiva.  Esta, deseja entender o motivo da intensa agitação social que ocorria na Europa com um intuito reformista de cessar o caos, trazendo a ordem.
            Para desenvolver a Filosofia Positiva, Comte narra o desenvolvimento da inteligência humana, que teria passado por três estágios de conhecimento: o Teológico, o Metafísico e, por ultimo, –aquele que Filosofia ainda teria que alcançar – o Científico. Assim, sociedades consideradas primitivas ou “infantis” estariam no primeiro estágio e sociedades “desenvolvidas” no terceiro.
            Dessa forma, pode-se considerar  a filosofia de Comte como uma influência da Antropologia do século XIX. Já que quando o homem e sua forma de se organizar em sociedade passou a ser objeto de estudo, julgavam importante estudar primeiramente as formas de sociedade consideradas “simples” para depois poder entender as mais “complexas”.  Assim, os povos que serviram como objeto de estudo nesse primeiro momento foram os presentes nas colônias europeias na América e na  África.
            Sendo assim, a Europa utiliza da antropologia (que ao estudar os nativos das colônias os julgou ainda no estágio Teológico e, portando, ou definiu como inferiores ou atrasados) e do positivismo (que defende que ao se manter a ordem governamental, da forma como a Europa fazia, se traria o progresso para a região) para justificar a dominação de outros povos durante a colonização.
 

As fases necessárias para o desenvolvimento da sociedade e quebra do tradicionalismo

           Iniciando seu curso de filosofia positiva, Comte nos apresenta a existência de três fases da evolução do conhecimento humano: a primeiro momento, temos o estado teológico, caracterizado por ideias e aforismos teóricos que ditam um conhecimento abstrato e sobrenatural; como segunda etapa desse desenvolvimento, temos o estado metafísico que é conhecido por crer em abstrações personificadas responsáveis pelos fenômenos observados da vida mundana; alcançando o ápice do conhecimento, o homem se encontra no terceiro estado, o positivo, quando percebe não conseguir um conhecimento absoluto mas, no entanto, se preocupa em entender a origem dos fenômenos e descobrir suas leis efetivas.
         Comte nos deixa bem explícito, porém, a necessidade da existência das duas primeiras fases do desenvolvimento do pensamento humano. A origem do que seria, mais tarde, a filosofia positiva, se deu a partir de uma opinião, segundo Comte, exagerada a respeito do mundo. Sem essa opinião, os pensadores estariam presos num ciclo vicioso de necessitar de uma teoria para poder observar os fatos, mas, ao mesmo tempo, necessitar desses fatos já observados para formular uma teoria.
         Na atualidade, o positivismo conhecido é carregado de conceitos, algumas vezes, pejorativos, pois, a fim de uma manutenção da ordem, que originaria consequentemente, o progresso da sociedade, os positivistas são tidos como conservadores e ortodoxos. No entanto, apresentada como sua raiz original, a ciência positivista defendida por Comte, tem como essência a defesa do método como forma de obter o distanciamento do observador, este que realiza suas experiências baseadas nos modelos baconiano e cartesiano.
         Dessa maneira, pois, podemos afirmar que Bacon e Descartes são precursores da filosofia positivista, isto é, suas ideias e métodos são concluídos pelo positivismo de Comte. Simultaneamente em que, analisando os métodos dos primeiros, vemos um desejo de ruptura com a filosofia tradicional e com os, segundo Bacon, “muros mentais”, ambos responsáveis por vãs abstrações a respeito da sociedade e raciocínios metafísicos, temos, em Comte, a mesma avidez em mostrar a existência dessa nova filosofia capaz de estudar o real, o útil e o certo da sociedade. 

Positivismo


O positivismo foi uma corrente filosófica que fugiu propriamente do campo do pensamento e das ideias da Filosofia rompendo com as teorias propostas anteriormente por pensadores como os iluministas. Tendo como precursor Auguste Comte, o positivismo consiste em uma concretização do estudo e do pensamento social de forma conservadora, partindo de um pressuposto de que os estados de pensamento evoluem passando pelo teológico, metafísico e em seu auge de amadurecimento atinge o estado positivo. Comte embasa assim seu pensamento que influenciou profundamente diversos países no mundo.
O Brasil não escapou às propostas positivistas. Ao analisar nossa história e cultura percebemos diversos traços do pensamento em nosso país. A proclamação da República brasileira foi fortemente influenciada por essa corrente, não escapa à nossa bandeira a prova disso:
“O Amor por princípio e a Ordem por base; o Progresso por fim.”
Auguste Comte
Discute-se bastante a falta da palavra amor na bandeira nacional, já que é obra do pensamento positivista, não o exprime por completo. Essa problemática foi discutida há tempos por Noel Rosa em sua letra “Positivismo” e perdura até os dias de hoje com abaixo assinados na internet e projetos de lei que tem como objetivo a inserção da palavra “amor” no lema de nossa bandeira.

Positivismo

A verdade, meu amor, mora num poço
É Pilatos, lá na Bíblia, quem nos diz
E também faleceu por ter pescoço
O (infeliz) autor da guilhotina de Paris

Vai, orgulhosa, querida
Mas aceita esta lição:
No câmbio incerto da vida
A libra sempre é o coração

O amor vem por princípio, a ordem por base,
O progresso é que deve vir por fim.
Desprezaste esta lei de Augusto Comte
E foste ser feliz longe de mim

Vai, coração que não vibra
Com teu juro exorbitante
Transformar mais outra libra
Em dívida flutuante

A intriga nasce num café pequeno
Que se toma para ver quem vai pagar.
Para não sentir mais o teu veneno
Foi que eu já resolvi me envenenar!