quarta-feira, 2 de outubro de 2013

Vai trabalhar vagabundo

Vai trabalhar vagabundo
Vai trabalhar, vagabundo
Vai trabalhar, criatura
Deus permite a todo mundo
Uma loucura
Passa o domingo em família
Segunda-feira beleza
Embarca com alegria
Na correnteza
Prepara o teu documento
Carimba o teu coração
Não perde nem um momento
Perde a razão
Pode esquecer a mulata
Pode esquecer o bilhar
Pode apertar a gravata

 
(Chico Buarque de Hollanda)
            Na música Vai trabalhar vagabundo de Chico Buarque, o compositor aborda de maneira lúdica a ética ascética do trabalho, presente no protestantismo analisado pelo sociólogo Max Weber para edificar os esteios do ideário capitalista.
            Em “A ética protestaste e o espírito do capitalismo” o sociólogo apregoa a maneira como a ética do trabalho e acumulação própria do calvinismo influenciou o modo de produção capitalista. De tal sorte que para tal, parte no sentido oposto do pensamento marxista, no qual o modo de produção é a causa central da cultura, ou seja, para Weber, a cultura (a ética protestante) é a causa do modo de produção.
            Nesse confronto de ideias é razoável pensar: a mudança do modo de produção é causa ou consequência da mudança do modo de pensar?
            Ainda assim, Weber não procurou em seus escritos desdizer a obra do materialismo histórico marxista, mas propor um princípio diferente para um processo que culmina num ponto comum para ambos sociólogos, ilustrado no cotidiano atroz dos “vagabundos” que enxergam o domingo de descanso como uma loucura, concedida por Deus.

Marcus Vinícius de Faria.

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