segunda-feira, 30 de setembro de 2013

T.G.I.M. - O dia de um capitalista

   O despertador toca e acordo para mais um dia de trabalho. Sexta-feira. Último dia da semana para ser produtivo. Logo me arrumo e vou para a cozinha tomar um café enquanto leio um gibi do Tio Patinhas, o meu personagem favorito dos quadrinhos. Assim que termino não há enrolação, vou direto para o meu local de trabalho. A pé, claro, pois a gasolina atualmente custa uma fortuna! Uso meu carro simples apenas quando realmente necessário. Durante o caminho, observo uma padaria que permanece a mesma há 25 anos, sem prosperar. Considero isso quase tão triste quanto a falência da loja de um amigo, fechada por não ter conseguido se adequar às exigências de nossa sociedade capitalista.
   Chegando ao trabalho, mal cumprimento meus colegas. Quero apenas sentar em minha sala e trabalhar, amizades aqui não serão úteis. Em minha pausa, horas mais tarde, entro no Facebook para checar se há algum evento que auxilie a economizar ou prosperar no trabalho. Oh, grande erro. Logo olho com desprezo pessoas usando a gíria boba “T.G.I.F.”(Thank God It's Friday). Agradecer a Deus por ser sexta, sério? Esse amor pelo ócio, por poder trabalhar menos, me dá náuseas. Rio comigo mesmo enquanto penso que talvez “T.G.I.M.” (Thank God It’s Monday) seja mais adequado, pois segunda, ah, essa sim é um dia produtivo!
    Após o término do expediente normal, faço algumas horas extras até o horário de ser realmente necessário ir para minha modesta casa. Obviamente, não haverá alguém para me receber: sou casado com meu trabalho. No caminho, passo pela porta de uma igreja cristã e um conhecido me cumprimenta. Respondo secamente. Sei que ele critica muito meu desejo pelo acúmulo de dinheiro, pois suas crenças pregam exatamente o contrário disso. Mesmo assim, ele tolera.
   Já em casa, janto vendo um episódio de Todo Mundo Odeia o Chris. Muitos de meus colegas dizem que sou parecido com Julius, o pai do personagem principal, que sempre sabe o valor de cada coisa, trabalha muito e se esforça o máximo para economizar, gastando apenas o necessário para aproveitar a vida. Sinceramente? Encaro como um elogio.
   Após um banho, começo a adiantar alguns serviços em casa enquanto assisto um documentário sobre o Protestantismo e como este foi necessário para o desenvolvimento do capitalismo e a posterior racionalização deste. Tal religião apresentava princípios tão inspiradores... Logo vejo semelhanças com minhas próprias ideias, mesmo não sendo protestante, percebendo como essas crenças deixaram marcas mesmo perdendo o tom religioso.
   Vejo as horas. Melhor dormir, pois mesmo um final de semana pode ser aproveitado, mas para isso preciso estar descansado. Deito agradecido por todas as condições que permitem meu trabalho, pois considero este um verdadeiro sinal e caminho da salvação. Durmo tranquilo pois sei que graças a pessoas como eu a economia capitalista se sustenta.

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