segunda-feira, 2 de setembro de 2013

Diário de um Wretch*

Venho manifestar aqui, neste diário, meu horror e minha repulsa à atual situação em que me encontro. Escrevo aqui para que gerações futuras possam ler isso e garantir melhores condições de vida e para que não parem nunca de lutar pelos seus direitos. Sou um operário na indústria de tecelagem e vivi todo esse tempo de transição entre o rural e o urbano.

No começo, eu e minha família trabalhávamos no campo com boas condições de vida. Vivíamos bem com máquinas para nos auxiliar, que, naquela época, eram movidas à força motriz animal, humana ou natural, como o vento e a água. Mas, com a vinda de máquinas a vapor, tivemos que largar o nosso trabalho no campo e migrar para a zona urbana para conseguir dinheiro para viver. Essa foi a nossa pior escolha e vou-lhes dizer o porquê.

Com essa vinda das máquinas a vapor, não era mais necessária a força muscular humana, surgindo a procura de crianças e mulheres para empregos nas fábricas. Só eu e minha esposa trabalhando não conseguíamos dinheiro o suficiente para nos mantermos e foi assim que tive que vender a mão-de-obra do meu filho para complementar a renda e mesmo assim vivíamos quase na miséria. Sentia-me muito mal por isso, por estar colocando meu filho inocente nessa realidade tão cedo, me sentia um verdadeiro traficante de escravos. Por causa disso, procurei o ópio e outras drogas para tentar, numa tentativa estúpida, esquecer os meus problemas. Vi colegas meus perderem seus filhos, porque não tinham tempo para cuidar deles, para alimentá-los, para dar carinho e afeto. Alguns me diziam que davam drogas aos filhos para acalmá-los para que ficassem “bem” sozinhos em casa.

O governo, numa tentativa ridícula de melhorar as condições de vida das crianças, introduziu a escola nas fábricas, porém ou os professores não tinham qualificação nenhuma para ministrar aulas ou os alunos ficavam tanto tempo sem ter aulas que, quando voltavam, já não se lembravam de nada que tinham aprendido antes de voltar a trabalhar. Tudo isso que conto é a verdade, não invento nada, apesar de assim o parecer. Entretanto, o que mais me incomodava e me despertava o ódio era a existência de abastados ociosos. Enquanto estávamos, literalmente, nos matando de tanto trabalhar, havia outros que ficavam o dia inteiro sem fazer nada e ainda lucravam muito com a exploração de operários.

Enfim, espero que isso não se prolongue por muito tempo, porque não quero que minha família continue enfrentando esse tipo de situação. Vejo meu filho enfrentar situações dificílimas de trabalho e ainda passar fome às vezes. Peço aos céus para que meus netos e bisnetos não sofram dessa forma, porque me arrependo muito de ter largado minha vida no campo para vir morar aqui na cidade.

*Wretch: miserável, termo que fazia referência ao trabalhador agrícola.

Grupo:
Dayana Dezena
Dianety Silva
Flávia de Paula
Isadora Ribeiro
Juliane Siscari
Micaela Amorim
Paola Yumi
Suzana Satomi

Tema: O homem e o modo de vida: entre o rural e o urbano.



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