quinta-feira, 24 de maio de 2012

A dialética como método


Friedrich Engels, no seu texto "Do socialismo utópico ao socialismo científico", defende o Materialismo Dialético (concepção criada por ele e Karl Marx no século XIX) como método científico. 
O Materialismo Dialético entende que a existência humana em sociedade é condicionada pela sua base material: o capital, as matérias-primas (os recursos naturais) e os meios de produção (fábricas, máquinas). Os que detêm a propriedade destas riquezas formam a classe dominante (burguesia), uma minoria que para produzir explora a mão-de-obra da classe proletária (maioria) que, não sendo proprietários, têm que vender sua força de trabalho. Mas a sociedade é dinâmica, a História está sempre em movimento, e este movimento é Dialético: esta oposição entre Capital e Trabalho, a luta entre estas duas classes antagônicas resultaria na superação para uma nova sociedade, onde não haveria mais propriedade privada destes meios de produção, que seria coletiva, e, portanto, estariam extintas também as classes sociais.
Para entender a Dialética: dada uma tese, esta produzirá o seu contrário, uma antítese, e o confronto entre tese e antítese vai resultar, num estágio mais avançado, uma síntese. Esta Síntese se constitui numa nova Tese, e assim dando continuidade ao movimento. Também para ilustrar esse pensamento de Engels, deixo esse poema do poeta brasileiro João Batista do Lago:

"ANOMIA

Perambula pela tonta cidade
O exército dos deserdados
Há muito condenado
Perdido e desgraçado da sorte

Anômico mendiga uma naca de felicidade
Esses soldados da infeliz cidade
Não conseguem essa guerra vencer
E assim desesperam dia-a-dia no viver

Vêem dia-a-dia a esperança morrer (mas)
Sem trabalho si morrem em cada alvorecer
E a cidade… Ó, infeliz cidade!
Anônima de toda felicidade

Enfileira sua miséria encantada
E transforma a vida dos deserdados
Em campo de concentração de miseráveis
Ah, povo dos trabalhadores!

Povo deserdado.
Povo condenado.
Povo vexado.
Povo marcado.

Não esperem que o céu resolva suas dores
Essa divinal esperança só aumenta seus horrores
Isso não é destino de Deus: é do homem a miserável economia!
Que encerra todas as gentes no inferno da anomia"

                                                

 
A dialética de Engels e Marx
                              
O Materialismo dialético é uma concepção que defende o ambiente em si, o organismo e os fenômenos físicos tanto regulam os animais e os seres humanos, sua civilização e sua cultura quanto são regulados por eles. Em outras palavras é que a matéria está em uma relação com o psicológico e o social e que se opõe ao idealismo que acredita que o ambiente e a sociedade são fontes divinas.
Essa concepção citada acima criada por dois grandes pensadores do século XIX faz parte do cotidiano de nossa sociedade mesmo tendo sido criada há certo tempo atrás. A dialética não pode ser considerada como um conceito, mas sim deve ser pensada como um mecanismo presente e que regula as sociedades independentemente de seu período histórico.
Para se ter uma ideia de como esta concepção está presente em nossa realidade me proponho a dar alguns exemplos: um deles é a greve de médicos da rede pública de saúde que fizeram essa manifestação como forma de subverter a ordem vigente e conseguindo assim uma nova síntese que é o aumento de salário tão desejado por eles mesmos; e por fim outra realidade próxima de nós é a obtenção dos direitos dos gays que também conseguiram modificar a ordem e através disso conseguir seus objetivos.
Portanto as relações humanas sempre tiveram e sempre terão posições divergentes àquela adotada como vigente, porém através de mecanismos que vão de acordo com a sua realidade efetiva vão tentar modificar a estrutura corrente para assim conseguir uma nova síntese que passará a ser a tese de suas relações.

   Afonso Marinho Catisti de Andrade                                

Fato social ou econômico?

      Ao contrário do que aquilo que afirma Durkheim,em “As regras do método sociológico”,na sociedade contemporânea um fato só existe se houver uma finalidade;mais precisamente,uma finalidade econômica.Émile Durkheim argumenta que os fatos sociais muitas vezes ocorrem apenas como resultado de costumes,pela força do hábito apenas.Porém,com a ascensão do capitalismo enraigado pelo individualismo e interesse meramente econômico,a situação se modificou.
      Atualmente,não se vêem atitudes que não possuam um vínculo com o dinheiro,ou que não possuam um objetivo a ser alcançado.Ongs são criadas todos os dias ao redor do mundo,e não somente com o objetivo de angariar fundos a pessoas carentes ou a crianças doentes,mas também para promover o nome do fundador das mesmas,fazendo sua imagem de “bom samaritano”.O individualismo está presente em todos os âmbitos da sociedade moderna.
      Direitos humanos.Expressão bonita,de forte impacto,sensibiliza as pessoas.Expressão essa,entretanto,só sai do papel quando há interesses econômicos relacionados à questão.A própria ONU,a qual deveria exercer intervenção quando houvessem violações aos direitos humanos,só é eficaz quando a economia de seus países-membros corre risco de ser afetada por tais violações.Quando a “desumanidade” pode acarretar a alta do preço dos barris de petróleo a ONU prontamente faz uma intervenção,até mesmo quando não seria necessário fazê-la;por outro lado na Somália,onde não há interesse econômico nenhum,alimentos doados são trocados por armamentos e ninguém faz intervenção alguma.
      O que se vê hoje,é uma sociedade na qual só há ações quando se há finalidades.Os fins não só justificam os meios como também servem de estímulo para que se inicie o posicionamento e a tomada de atitude.A “força exclusiva do hábito” não mantém um fato social no século XXI.