Este é um espaço para as discussões da disciplina de Sociologia Geral e Jurídica do curso de Direito da UNESP/Franca. É um espaço dedicado à iniciação à "ciência da sociedade". Os textos e visões de mundo aqui presentes não representam a opinião do professor da disciplina e coordenador do blog. Refletem, com efeito, a diversidade de opiniões que devem caracterizar o "fazer científico" e a Universidade. (Coordenação: Prof. Dr. Agnaldo de Sousa Barbosa)
sexta-feira, 13 de abril de 2012
Fiat lux
Cultura do Egoísmo
Com o fortalecimento do imediatismo, as pessoas começaram a pensar no efeito de suas ações apenas a curto prazo, sem se preocuparem com as próximas gerações. Muitos dos problemas ambientais e sociais que as sociedades contemporâneas vivem são frutos de ações passadas que visavam somente seu momento histórico, o que prova que o ser humano tem exemplos suficientes de atitudes a serem, ou não, seguidas e conhecimento para construir um futuro melhor.
Quanto ao conhecimento, é importante que seja usado de forma correta, e não como ferramenta do homem prático para a manutenção do mundo enquanto máquina. Assim, como pode-se constatar a partir do filme "Ponto de Mutação", de Bernt Capra, nem sempre a expressão "saber é poder" representa algo positivo.
Também é de responsabilidade do egoísmo a restrição da capacidade de análise por parte das pessoas, pois estas ficam restritas a um único objeto, ignorando suas relações. A contaminação da sociedade ocasionada pelo individualismo é tamanha que até mesmo o mundo deixou de ser visto como um organismo vivo para tornar-se algo mecânico.
Por mais que pareçam originários da natureza humana, esses defeitos são fatores culturais. Como é observado pela personagem Sonia, do filme anteriormente citado, existem tribos indígenas estadunidenses que tomam todas as decisões baseadas no impacto que causarão a sua sétima geração, mostrando que planejamento e pensamento a longo prazo são benéficos a todos. Também é apresentada a Teoria dos Sistemas Vivos, onde os assuntos são analisados dentro de suas conexões, de forma mais abrangente e efetiva.
O homem tem a capacidade e os meios de solucionar seus problemas, só falta a iniciativa para fazê-lo.
A busca pela harmonia
O filme “Ponto de Mutação” baseia-se no livro de Fritjof Capra e é um documentário que se passa na França, onde se encontram um poeta angustiado com o sentido da vida humana, um político em crise por ter perdido as eleições e uma física frustrada por ver suas experiências serem utilizadas por militares para fins destrutivos. Eles discutem, então, o conhecimento humano, cada um com seu ponto de vista. O filme nos leva a enxergar a realidade com outros olhos, com uma visão sistemática, observando um objeto com seu conjunto de conexões e como estas refletem no mundo.
A ciência moderna avança a cada dia e a sempre atual discussão é se ela não rompe com os valores éticos. Vivemos num mundo capitalista saturado de tanta produção, com inúmeras inovações tecnológicas e as vezes nos tornamos mecânicos. Precisamos nos desligar da definição cartesiana de que o ser humano é como uma maquina, o homem é um ser autodeterminante com sentimentos e sensações que o fazem mudar de comportamento e também o fazem ter a vontade de controlar natureza. É próprio do ser humano a ação transformadora da natureza. Mas, como o sistema em que vivemos prega o progresso infinito, essa característica humana é aflorada e um grupo cada vez menor de pessoas, na busca pelo enriquecimento, domina a natureza e as outras pessoas. É nesse ponto que precisamos nos perguntar se a humanidade usa de ética nas descobertas e pesquisas cientificas ou se ela somente busca um progresso financeiro. Outro ponto é o da sustentabilidade. Depois de tantos anos explorando a natureza, hoje somos obrigados a cuidar dela e, por mais que essa mudança nos costumes sociais seja difícil, é preciso aliar tecnologia e sustentabilidade.
Concluo, então, que a principal utopia contemporânea é exatamente a existência de uma sociedade em que haja harmonia entre o avanço científico e tecnológico e o meio ambiente por inteiro. E entendo, então, que para alcançar tal “felicidade” é preciso dar mais espaço aos nossos sentimentos, como dizia Charles Chaplin: “Pensamos demasiadamente e sentimos muito pouco. Necessitamos mais de humildade que de máquinas. Mais de bondade e ternura, que de inteligência. Sem isso, a vida se tornará violenta e tudo se perderá.”
Pensando Globalmente
Assim, é válida a nossa mutação perceptiva das partes para o todo, de objetos para relações, ou seja, pensar de forma sistêmica. Um sistema sustentável talvez não esteja ciente das múltiplas relações entre seus membros, mas nutrir o sistema significa nutrir estas relações. Então, o sucesso de um sistema está sujeito ao sucesso de cada um de seus integrantes e o sucesso de cada integrante está sujeito ao sucesso do sistema como um todo.
Essencial humano
O poder da ciência
Um dos temas discutidos é a ideia de que o pensamento científico é feito com a finalidade de ter uma utilidade, ou seja, aquilo sem um fim prático não tem sentido para existir. Um dos personagens culpa a ciência por ter tornado a vida tão descartável, com a criação da bomba, que destrói tudo o que está ao seu redor em questão de segundos.
Qual será então o valor da vida humana no contexto descartável em que estamos vivendo? Os homens têm essa terrível mania de tratar as pessoas de acordo com suas utilidades, o que nada mais é do que "coisificá-las". Não só descartamos roupas, sacolas plásticas, alimentos, móveis mas também amigos, vizinhos e parentes. Se alguma pessoa não é útil para alguém, não faz sentido serem amigos ou terem qualquer outra relação. Pessoas não são coisas, por isso não devem ser tratadas como tal.
Maria Cláudia Cardin
Um veículo diferente
Esclarecido isso, é possível refletir a cerca daquilo que nos trouxe até aqui. É algo que em geral não é questionado pelo senso comum. Podemos pensar sobre nosso momento histórico e nosso ambiente. Podemos pensar sobre onde estamos e qual é o contexto. Mas muitos se esquecem de analisar COMO chegamos até aqui e qual foi o veículo utilizado. Graças a quais forças o pensamento hoje se apresente dessa maneira ? Esse tipo de questionamento é apresentado no filme, e diferentes debates nos levam a variadas respostas.
Se nosso pensamento hoje é dividido em diferentes áreas (exatas, humanas e biológicas) isso se deve a uma maneira de buscar conhecimento que nos fez separar o conhecimento dentro dessas grandes áreas. E mais, se dentro dessas grandes áreas existem áreas menores, como matemática, engenharia, direito, história, medicina, bioquímica, isso também se deve àquela maneira que foi empregada. Se, ao invés disso, tivesse sido empregado um método de abordagem científica diferente, as áreas seriam diferentes, as divisões de pensamento seriam outras. Os agrupamentos de conhecimento seriam outros e consequentemente os agentes empregadores desse conhecimento seriam outros. Em outras palavras, as profissões seriam diferentes. Os profissionais não seriam os mesmo de hoje.
A cerca desse assunto, pode-se perceber que o método que nos trouxe até aqui é de certa forma afunilador. Estuda-se um grande organismo separando-o em diferentes sistemas, que são separados em diferentes órgãos, que são separados em tecidos e células diferentes. Pode-se ainda estudar cada elemento que compõe esse organismo separadamente, e a partir daí entender como ele funciona no geral. É diferente de analisar esse mesmo organismo numa visão mais contextualista, em que ele faz parte do ambiente e com ele interage, e partir dessas relações estudar o seu funcionamento. Pode parecer estranho, mas hoje o método de abordagem científica poderia ser assim. Não sei se seria melhor ou pior, mas com certeza teria sido necessário um veículo diferente daquele que nos trouxe até aqui.