sábado, 24 de março de 2012

Os cegos do castelo


              O que é o acaso senão uma pequena dose de ironia que o destino emprega para quebrar a mecanização da vida? O acaso, peça pequena que torce e distorce até as concepções mais concretas do ser humano é uma primazia que a teoria baconiana descarta.
                 A ciência totalmente útil de Bacon especializa e intensifica tanto as descobertas que promete aniquilar o acaso, pois não haveria mais mistério algum a ser desvendado pela ciência. Mas, o que é o homem sem o mistério? O que fomenta a existência humana é a vontade de descobrir as verdades do mundo, da vida, da morte... Se não houver mais verdades a serem descobertas ou o homem terá se tornado deus, ou estará morto.
                   Se encontra à beia do precipício da existência o homem cego que acredita ser capaz de tornar-se divino. Bacon já afirmava, existe uma lacuna entre o humano e o divino, e esta lacuna, não importa a maneira, não será preenchida por nenhuma ciência.
                Até o vencer a natureza não será capaz de aproximar o homem das verdade que procura. Vencer o meio do qual depende inteiramente não garante sucesso, pelo contrário, condena ao fracasso. Tal atitude seria impensável ao ser humano. Já se pode observar as consequências da exploração desmedida, se vencermos a natureza então estaremos arruinados.
                Essa ambição pela aproximação ao divino envolveu o homem num castelo de dúvidas e tentativas frustradas, e o seu poder de tentar novamente e o fracasso contínuo cegou-o aos seus limites e está levando-o à ruína. Todos os excessos são prejudiciais ao homem, principalmente aqueles que corrompem a sua natureza. A ciência é benéfica até o ponto que começa a criar anjos sem asas, que acreditam ter poderes divinos, mas não têm meios de alcançar o patamar a que pertencem.


Francis Bacon e os equívocos contemporâneos

 Vivemos em uma época de falsas certezas. Muitos acreditam que o ser humano, com todas as tecnologias desenvolvidas até então, finalmente conseguira controlar a natureza e que agora a humanidade cria as melhores condições para a sua sobrevivência sem precisar se submeter as condições naturais. No entanto, o dominação humana sobre o mundo se mostra como algo impossível. Um grande exemplo disso são as mudanças climáticas em decorrência da interferência antrópica na natureza, conseguimos modificar o relevo e o clima tornando a ambiente natural habitável,mas não conseguimos impedir que as consequências dessas interferências nos afetasse. Frente a tudo isso a grande questão é : o homem é capaz de controlar a natureza e  assim dominar o mundo?
  Analisando tal questão baseando-se no pensamento de Francis Bacon, a sociedade contemporânea deve mudar em muitos aspectos para que ocorra a superação das condições impostas pela natureza. Primeiramente, Bacon afirma que não se vence a natureza enquanto não obedecemos suas "regras", logo a conduta humana dominante ao longo de todos os séculos não obedece a tal premissa, uma vez que a maioria dos homens é constantemente dominada por uma mentalidade de embate com a natureza e não de obediência. E esse princípio baconiano de obediência as condições naturais tem sua aplicação prática, por exemplo na tecnologia empregada no Japão para atenuar o impacto dos terremotos, tais recursos tecnológicos não tentam impedir a ocorrência dos tremores, apenas primam pela segurança da população, o que fica garantido com o uso dos mesmos.
  No entanto, a grande disparidade entre a filosofia de Bacon e a conduta humana contemporânea é o cultivo das falsas percepções do mundo feito pelos homens. Chamados por Bacon de ídolos, essas distorções da realidade se vinculam com a interferência de nossos sentimentos, das nossas relações estabelecidas com o mundo e com as várias representações do mundo que associamos. Atualmente, somos induzidos a todo momento para formar falsas percepções, a mídia e o marketing, por exemplo, nada mais são do que precursores para interpretações equivocadas do mundo e das nossas reais necessidades.
 Se formos analisar a situação contemporânea e os pensamentos de Francis Bacon, a humanidade ainda está longe de dominar a natureza. Ainda somos muito influenciados por equívocos ou por visões pré-concebidas, logo não nos livramos das essências que , segundo Bacon, impedem que o conhecimento seja claro. Mas nessa situação o mais importante não é definir a parte que está certa e a que está errada, o que importa é questionarmos se se impor sobre o espaço natural é realmente necessário. Se mesmo com todas as especulações de Bacon e os avanços tecnológicos atuais ainda não foi possível se impor aos obstáculos da natureza de forma plena, não seria o papel do homem se harmonizar com todo o ecossistema ao invés de tentar dominá-lo a todo instante?
Francis Bacon, em seu livro "Verdadeiras Indicações Acerca da Interpretação da Natureza", faz críticas aos gregos e à sua filosofia por acreditar que revoluções verbais não mudam a sociedade. Segundo ele, os gregos estão "prontos para tagarelar, mas são capazes de gerar, pois a sua sabedoria é farta em palavras, mas estéril de obras." Esse pensamento de Bacon fez-me perceber que há muitos gregos da atualidade. Dentre eles, certos políticos, que, durante o período de eleições fazem muitas promessas e realizam grandes discursos como se fossem mudar o mundo caso eleitos. Obviamente suas palavras não levam progresso à sociedade, pois somente o agir transforma a nossa realidade. Os gregos da atualidade estão espalhados por toda parte, sempre prontos para discutir sem nunca contribuir com algo útil e concreto. Ter conhecimento é essencial, porém, ainda mais importante é saber colocá-lo em prática.  

Poder é sobreviver


Francis Bacon, em “Novum Organum”, apresenta a tese de que o homem deve exercer o seu poder sobre a natureza por meio do estudo das ciências, segundo ele: “Saber é poder”. Também expõe sua visão de que a o método correto de fazer ciência é diferente daquele utilizado na Antiguidade pelos filósofos gregos, o qual possuía o propósito de mero exercício da mente; é o método em que a ciência tem utilidade prática, atende às necessidades da sociedade. Em decorrência dessa mudança no conceito de fazer ciência, inúmeras descobertas foram feitas, colocadas em práticas e são essenciais no dia-a-dia atual. Porém, muitas dessas grandes invenções trazem consequências alarmantes à sociedade contemporânea, como por exemplo, o tão citado aquecimento global.
                O Tear industrial, a máquina a vapor, a penicilina, a energia elétrica, são invenções contemporâneas consequentes do novo método ditado por Bacon e que revolucionaram o modo de vida do ser humano. Anteriormente a esses inventos, roupas eram confeccionadas à mão por artesãos tendo por consequência uma grande demora para sua produção, o transporte era realizado com base em equinos e escravos , doenças que hoje são consideradas simples, como uma gripe, matavam milhares de pessoas, o lampião era o meio de se obter a claridade.
                Os novos inventos, ao contrário do que acontecia nos séculos anteriores, passam a ser de largo alcance e não apenas para uma restrita elite. A produção de roupa passa a ser feita em larga escala, é criado o sistema de transporte público, que mesmo sendo muitas vezes falho, procura atender a maior parte da população, remédios passam a ser amplamente produzidos e passa a haver cura para doenças antes incuráveis, criam-se diversas formas de produção de energia elétrica, entre outras melhorias na qualidade de vida das pessoas em geral.
                Entretanto, o que não se sabia era que se por um lado as novas descobertas facilitavam e melhoravam muito a vida da população, elas também traziam consigo consequência negativas as quais poderiam chegar a comprometer a  vida no Planeta .  O Aquecimento Global é uma dessas consequências, ele vem ocorrendo em decorrência da liberação de gases poluentes na atmosfera, esses são provenientes principalmente dos combustíveis escolhidos como preferenciais na sustentação das descobertas contemporâneas, como as indústrias, os automóveis, a produção de energia; esses combustíveis são denominados combustíveis fósseis e sua queima acaba acarretando uma dificuldade na dispersão do calor.
                Os efeitos desse fenômeno são sentidos diariamente, nota-se a diminuição das calotas polares com o aumento do nível dos oceanos, o calor cada vez mais intenso, o aumento de fenômenos como furacões e terremotos, entre outros. A humanidade está cada vez mais preocupada com essa situação e procura soluções para resolução do problema.
De acordo com Bacon, o homem só terá o domínio pleno da natureza se obedecê-la. Só terá o poder sobre ela se estudá-la. Assim, estudar, conhecer a natureza obedecendo-a, fazendo descobertas científicas que atendam às novas demandas da atualidade, como as energias renováveis, pode ser a solução tão procurada, ansiada, sendo assim a chance do homem mudar sua realidade para que as próximas gerações ainda possam habitar o chamado Planeta Terra.

As ideias de Bacon

Não é sem motivo que Francis Bacon é tido como símbolo da Renascença. Com sua visão acerca da natureza e da experimentação, além de suas críticas a várias maneiras de fazer ciência, o pensador do século XVII ensina ao homem do século XXI como usar a mente de forma correta.
Em sua obra, "Novum Organum", Bacon apresenta um método que busca uma ciência eficiente na luta contra a  natureza, sendo que para controlar a natureza é preciso antes ter o controle da própria mente, adquirido apenas através da experiência. Apesar de antiga, a ideia de amadurecimento não está presente intensamente na vida do homem contemporâneo, que está inserido em uma cultura imediatista.
Também é de grande valia para o homem da atualidade o pensamento de Bacon sobre as antecipações da mente, visto que estas são a base para o senso comum e para as falsas percepções do mundo (ídolos), representando uma oposição à clareza científica. Fazem parte deste pensamento as críticas aos pensadores gregos, em especial Aristóteles, que fazem das ciências artes contemplativas baseadas não em experimentos, mas em especulações e fantasias.
Assim, com seu método indutivo e sua proposta científica, o homem do passado ensina ao do presente a guiar sua mente pelos caminhos da experiência e a negar a mera contemplação como resposta da busca pela verdade.

”Aplicar é poder"



É sabido que os avanços científicos e tecnológicos nunca foram tão freqüentes e impressionantes, afinal de contas, nanocirurgias, ligas metálicas resistentes à combustão e fissão nuclear já são técnicas dominadas pela sociedade contemporânea. Todavia, apesar do desenvolvimento da engenharia e da medicina – feito muitas vezes de modo agressivo e insustentável, a crítica Baconiana sobre a ausência da aplicação do conhecimento ainda se faz atual no sentido de que o universo das humanidades peca pela falta de concretização.
Em seu livro “Novo Organum”, Francis Bacon disserta sobre a importância de uma ciência a qual produza bens úteis, a qual aplique um conhecimento baseado não apenas na razão, mas na experiência. Vale ressaltar, no entanto que a referida produção teria por finalidade a exploração da natureza em prol do bem-estar social.
Partindo, então, do pressuposto de que o objetivo maior de todo e qualquer aprofundamento teórico é a prática, é possível perceber que há um problema sério relacionado às pesquisas e aos estudos jurídicos ou mesmo filosóficos. Ora, quantas são as pesquisas na área do direito que problematizam uma situação, refletem a respeito de alguma medida auxiliadora e a concretizam efetivamente? E ainda, quantos são os intelectuais que realmente aplicam o conteúdo de suas extensas leituras e acirradas discussões acadêmicas?
Parece que existe uma valorização exagerada da dialética, da fala formal e rica em citações, enquanto que há uma indiferença, ou talvez negligência, para com os desdobramentos da mesma. A impressão também é de que como “saber é poder”, agir de modo individualista, aglomerando e reproduzindo conhecimentos é o bastante, é admirável. Tal fato, por sinal, é surpreendente, uma vez que a intenção do estudo e do desenvolvimento mental é, ou deveria ser a melhora da qualidade de vida da população sob algum aspecto, ou seja, a aplicação concreta da ciência segundo o mencionado autor. 


OS ÍDOLOS BACONIANOS E AS INSTITUIÇÕES ATUAIS


  Bacon em sua obra “Novum Organum” apresenta-nos uma ciência muito semelhante a realizada na atualidade, uma ciência pautada na experiência, na capacidade humana de provar uma teoria e não apenas baseada na argumentação e no raciocínio lógico.
  A sociedade empírica de Bacon, capaz de expulsar os ídolos, falsas visões de mundo, não foi ainda posta em prática. Diversos fatores contribuem para bloquear a verdade que emana das realizações científicas e impedi-las de provocar as devidas mudanças nos indivíduos pertencentes à sociedade. Em cada ídolo citado por Francis Bacon encontram-se instituições responsáveis pela sua perpetuação na atualidade.
Ídolos da tribo - Como a mídia lida coma informação, ela tem a capacidade de formar opiniões e com isso utilizar-se das informações da maneira que lhe convir.   É capaz de causar, portanto, distorções da realidade, causadas por uma mente controlada por essa mídia.
Ídolos da caverna – Religião e educação são responsáveis pela formação do indivíduo, influenciam suas escolhas e sua visão de mundo. Contribuem, pois, para formação de modelos a serem seguidos.
Ídolos do foro – Os sistemas econômicos vigentes em uma sociedade são capazes de influenciar a conduta de seus membros. Maior ou menor competitividade, maior ou menor submissão ao Estado; tornando-se características necessárias para a sobrevivência da estrutura.
Ídolos do teatro – Superstições em geral contribuem para que fatos científicos sejam explicados por concepções sobrenaturais que estimulam a imaginação. Embelezam a realidade a fim de afastar as pessoas dos objetivos das grandes instituições.
Consideramo-nos tão evoluídos e mesmo assim continuamos sob a influência de ídolos identificados por Bacon em 1620. Somos racionais ou manipuláveis?