sábado, 13 de outubro de 2012

Chicote que ninguém ve

Já perceberam que quando estudamos diferentes sociedades, sempre conseguimos encontrar uma forma de coação que obriga o ser humano a investir sua vida naquilo que não lhe convém ? Na Grécia antiga a dificuldade era tornar-se cidadão para agregar algum direito. Na Idade Média a treva da Igreja impedia o pensamento racional. No Brasil colônia o índio evitava o chicote estripando a sua cultura. No Brasil Império foi a vez do negro deixar de viver para que o chicote o amaldiçoasse... Não teve e não parece ter fim.

O advento do capitalismo trouxe consigo uma leva de novos chicotes que marcam com fortes prestações o espírito do humano. E quando se fala num capitalismo opressor, se fala numa economia degenerada. A politização da economia desvinculou os laços pessoais das relações e fez do contrato um chicote incondicionado. Agora, se por um lado o branco não chicoteia o negro em busca de trabalho, o pobre, além de servir de degrau ao rico, tem que pagar com o sal do próprio corpo o alimento que constantemente lhe é negado.
Fugir dos chicotes que hoje deixam a sociedade impregnada é tão simples quanto um hilota tornar-se cidadão grego, um ateu pronunciar-se na Idade Média, um índio negar a civilização, um negro tornar-se branco. A meritocracia de que tanto se fala é argumento que pressupõe a existência da exploração.

Hoje, os chicotes perderam o teor físico e se enquadraram onde ninguém pode os questionar legitimamente: no Direito, no Estado, na Economia. A coação econômica impede a liberdade, o Direito institucionaliza o Poder de quem já está no poder e o Estado prende a sociedade. E a coação de hoje não se mostra menos violenta do que a coação do chicote, muito pelo contrário. Degrada o corpo físico, a mente e o espírito. Faz não só do trabalhador, mas todos, sentirem-se livres quando na verdade são escravos. Escravos de si e do tempo, da economia, do Estado e do Direito. Faz ter pressa quem não tem tempo. Tempo pra nascer, morar, viver. Pressa pra comer e agasalhar. Pressa de ser...

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