segunda-feira, 17 de setembro de 2012

Seremos irresponsáveis com o que cativamos?


Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas, disse a raposa ao Pequeno Príncipe. Sem trocadilhos, o já não tão recente evento que tomou lugar na Unesp e dividiu opiniões, não deveria ser pensado como evento isolado, e sim como uma amostra do momento em que vivemos; sim, cativamos a liberdade de expressão, e por conseguinte a possuímos, ou assim acreditamos, até que o “Príncipe” é calado, e as Pussy Riot condenadas. Não, não entrarei nos méritos ideológicos defendidos, mas na forma em que ambos foram impedidos de se expressar.
A raposa vai além na definição do cativo, uma vez que este tem mais valor quanto mais tempo e cuidado com ele se despendem. Temos cuidado da liberdade de expressão, defendendo-a com unhas e dentes, até a morte, como diria Voltaire? Ou acreditamos ser ela relativa, ou seja, estendida apenas aqueles que correspondem com nossos ideais? Damos realmente valor à livre expressão? Ou já não conseguimos mais ouvir o diferente, mesmo que para combatê-lo e  principalmente para isso fazer quando confrontados com o “discurso do ódio”, como intensamente dito ser o do Sr. Bertrand de Orleans.
Os precedentes abertos com essas manifestações me parecem um tanto quanto perigosos, afinal, criaremos guardiões que decidirão à quem a liberdade de expressão se aplica? Sinto muito, mas não acredito que calar grupos que tenham opiniões não aceitas pela maioria seja o caminho para impedir sua influência. Na verdade, o que acontece é o efeito rebote, eles ganham simpatia. Seria muito triste que em um meio que deveria ser tão frutífero de ideias, opiniões e diversidade de pensamento, no qual deveríamos estar aprendendo, ouvindo, analisando e criticando, nos limitemos a impedir o outro de falar. Não, isso não é ser melhor, isso é não dar valor ao tempo, esforço e cuidado que os anteriores a nós tiveram para cativar a liberdade de expressão.

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