segunda-feira, 3 de setembro de 2012

O desejo por uma democracia antidemocrática

     Após o incidente ocorrido na Faculdade de Ciências Humanas e Sociais da Universidade Paulista Júlio de Mesquita Filho no último dia 28, é possível perceber uma onda crescente do movimento estudantil que durante suas ações fere de forma gravíssima aquilo pelo que mais luta: a democracia.
     O incidente referido consistiu na visita do "Príncipe" herdeiro Dom Bertrand de Orleans e Bragança a convite de um grupo de estudos da própria faculdade, o CIVI. Ele faria uma palestra sobre os "Aspectos fundamentais da formação cultural brasileira". Entretanto, antes mesmo de sua visita, um movimento contra ele começou a se formar, nada mais natural, afinal em uma faculdade onde só existem cursos na área de humanas um palestrante que possui ideias retrógradas não será recebido de "braços abertos".
     A questão crucial foi o que esse movimento acabou se tornando, a ideia inicial como muitos disseram não era implodir o evento, mas sim manifestar-se contra os ideais de Dom Bertrand, o que é totalmente aceitável. Infelizmente não foi o que ocorreu, a manifestação saiu do controle e quando se deu conta tinham dezenas de pessoas ofendendo o palestrante que mal teve tempo de pronunciar algumas palavras antes do evento ser cancelado. Além da manifestação impedir a palestra, houve a possibilidade de alguém do movimento receber o microfone para expor suas ideias em 3 minutos, ninguém o fez.
     Esse fato mostra, portanto, como um grupo que preza acima de tudo ideais como igualdade e liberdade, consegue ferí-los quando é de interesse próprio. Como podem ansiar tanto por uma democracia plena quando numa oportunidade tão grande como essa, de discutir, debater e desconstruir ideias tão retrógradas,  ferem um dos princípios da nossa Constituição Federal, a liberdade de expressão de atividade intelectual, presente no Art. 5º, inc. IX.
     O fato não consiste no que Dom Bertrand acredita, seja na escravidão, seja contra os índios, ou a favor dos latifundiários, poucos concordarão e apoiarão isso. O importante é que, independente disso, usaram de um artifício antidemocrático para impor a sua vontade. Diante de discursos cheios de luta pela democracia e pela liberdade, na noite do dia 28 mostraram que a liberdade ficou só no discurso.

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