domingo, 2 de setembro de 2012

“Liberdade, Igualdade e Fraternidade"



“Tudo o que é desordem, revolta e caos me interessa; e particularmente as atividades que parecem não ter nenhum sentido. Talvez sejam o caminho para a liberdade. A rebelião externa é o único modo de realizar a libertação interior”
            Jim Morrison

No dia 28/08 houve uma manifestação na UNESP Franca, na qual o descendente da família real Dom Bertrand de Orleans e Bragança, o qual se o Brasil fosse uma monarquia seria o príncipe, foi desrespeitado. Isso é fato que repercutiu na mídia, mas o principal não é ele em si e sim as razões que motivaram o grupo de estudantes a agir daquela forma.
Primeiro, dentre as razões que motivaram estão falas de Bertrand como a presente em seu blog : “Alerta para os efeitos deletérios da Reforma Agrária e dos movimentos ditos sociais, que querem afastar o Brasil dos rumos benditos da Civilização Cristã, que seus antepassados tanto ajudaram a construir no País, hoje assolado por uma revolução cultural de caráter socialista.” Muito mais que uma cisão entre direita ou esquerda é preciso entender que esse senhor tem uma visão completamente anacrônica, preconceituosa e é preocupante no sentido que ainda lhe resta alguma influência, por isso o movimento dos estudantes da UNESP foi relevante, porque deixou claro que em nosso meio acadêmico não há espaço para formação de um antigo regime ultrapassado e preconceituoso.Todavia a forma de expressar suas ideias foi realmente equivocada e desrespeitosa. Era fundamental ter deixado o Bertrand falar e contra-argumentar intelectualmente suas opiniões sobre a criminalização dos movimentos sociais e tantas outras. E depois se houvesse a manifestação esta seria legitimada.
Além disso, muitos contestam o movimento alegando o direto à liberdade de expressão que Bertrand possui, entretanto esse valor não é absoluto, assim como nenhum outro. Não se pode defender o estupro, por exemplo, e este senhor defende concepções homofóbicas e almeja o fim dos movimentos sociais que lutam para garantir os direitos constitucionais. Será que isso não justifica o coro de 200 estudantes indignados pedindo sua retirada? Talvez não, mas como diria Machado de Assis “A ocasião faz a revolução” e nesse caso a atitude dos estudantes foi tomando proporções maiores daquela que eles tinham combinado no Ato- Debate anterior a palestra.
Outro ponto relevante é o segundo maior preceito da democracia que a presença de Bertrand na universidade pública fere: a igualdade. Se há de fato uma igualdade formal no Brasil, então não há espaço para um Estado de privilégios e é totalmente irracional tratar por “príncipe” e “vossa alteza real” já que estamos em Estado democrático de direito e todos merecemos tratamento idêntico pela lei. É inegável que Bertrand faça parte da família de Dom Pedro, todavia isso não faz com que este seja melhor que ninguém.
Por fim, a fraternidade do movimento que é fácil de ser notada, pois antes da vinda de Bertrand para a universidade os unespianos já se organizavam com reuniões, panfletagens e escracho. A vinda de Bertrand foi positiva no sentido que fomentou o movimento estudantil na faculdade e tirou boa parte dos alunos da apatia que estavam inseridos.
Enfim, houve uma manifestação que foi desrespeitosa, mas teve sim suas motivações que não podem ser ignoradas (como foi por boa parte da mídia). Como diria Rosa Luxemburgo: "Quem não se movimenta, não sente as correntes que o prendem."

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