segunda-feira, 24 de setembro de 2012

Index Cogitationes Prohibitorum


Há quatro séculos, o mundo deparava-se com uma realidade obscurecida pelas correntes que a Igreja Católica empunhava ao conhecimento, impossibilitando que a luz do racionalismo se expandisse. Tal período histórico abrange a Inquisição e o Santo Ofício, no qual centenas de visionários tiveram que se calar frente uma imensa fogueira, pois qualquer palavra proferida verbalmente ou de modo escrito poderia resultar em mortes horrendas. Soergueu-se um notório autoritarismo e controle ideológico, consolidando-se uma hegemonia de pensamento, que sob hipótese alguma poderia ser desrespeitada. A religião absorveu uma ampla mácula, que repercute até os dias atuais- mas essa exposição não apresenta como objetivo retratar isso-, pois desrespeitou o maior dom que poderia advim de Deus: a própria vida.
Um dos pilares constitutivos da Inquisição foi o Index Librorum Prohibitorum, um índice de obras literárias e científicas que se contradiziam aos dogmas formulados pela Igreja. O Direito Canônico legitimava que todos os livros que abordassem temáticas relacionadas à religião ou aos bons costumes deveriam ser fiscalizados pelo Ordinário local. Inquestionavelmente, uma das piores censuras já presenciadas pela humanidade, no qual ao nos depararmos consideramos como algo fútil e banal, pois já se encontra no nosso cerne o direito à liberdade. Um instigante questionamento que perpassa até os dias atuais refere-se à regulamentação dessa liberdade, a quem cabe essa função? Quais os limites da minha liberdade perante o próximo?
Semelhantemente a essas “trevas”, os alunos da UNESP depararam-se no dia 28 de agosto, com um explícito cerceamento do direito de expressão, como se coubesse a meros revoltosos a opção de escolha do conhecimento cientifico a ser perpassado. Os que estavam presentes no auditório naquela noite, depararam-se com raivosos cães ideológicos que almejavam devorar qualquer discussão de pensamento que ali se instaurasse, impuseram um Index Cogitationes Prohibitorum. Se na consolidada democracia, houve um solo fértil para o surgimento da semente da liberdade, quanto mais em um centro universitário de ciências humanas, que teoricamente deveria ser um espaço livre para discussões diversas e propício para embates, independentemente do gênero.
Irracionalmente, presenciou-se pseudomarxistas que se julgavam os detentores do conhecimento, desprezando qualquer diversidade. Por mero fanatismo, autoritarismo e radicalização, inúmeros “progressistas” demonstraram de onde realmente fundamentam-se, seriam os partidários do SS seus ídolos? O príncipe Dom Bertrand de Orleans e Bragança teve inúmeras vertentes de sua liberdade violada de modo desnecessário, um embasamento pautado unicamente por seu posicionamento conservador não é suficiente para tal protesto.
“Posso não concordar com nenhuma das palavras que você disser, mas defenderei até a morte o direito de você dizê-las”. Proferida por Voltaire, essa frase ecoa com veemência aos nossos ouvidos. Sob o âmbito evolutivo, ressalta-se que a fala e a escrita, formas mais gerais de expressão de ideias, diferencia-nos dos demais animais e essas “dádivas” possibilitam à apresentação de nossas ideias aos nossos semelhantes. Logo, depreende-se sob a ótica durkheniana que essa manifestação restriniu-se a uma mera explicitação de consciência coletiva incipiente e refuta a própria racionalidade humana vista sob esse ponto de vista.
A UNESP necessita definitivamente enraizar em seu meio a premissa básica que para a definitiva consolidação do meio universitário necessita da convivência de contrários e não de segregação, mesmo se houver divergências necessita-se priorizar pela urbanidade. Diante do que foi exposto anteriormente, poderia se deduzir um posicionamento de direita apelando para a rigidez da ditadura militar, entretanto trata-se de uma priorização da dialética para que produza constantes questionamentos, e consequentemente produção de conhecimento.

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