sexta-feira, 14 de setembro de 2012

Apelo de retorno


Quinta-feira, 30 de agosto de 2012.

Caro Sr. Bom Senso,

Venho por meio dessa carta apenas questioná-lo sobre os – tristes - acontecimentos da semana. Sim, senhor. Digo tristes. Tristes, porque, para mim, nesses últimos dias, o senhor desapareceu. Deixou-se ser encoberto por um manto. Um manto que tinha costurado em sua superfície grandes pedaços de pano, de extremismos, intolerância e até hipocrisia.
Como o senhor bem sabe, apesar de não estar presente, a Unesp –Franca ia receber, para palestrar em evento sobre a monarquia, o “Príncipe”, descendente da casa de Orleans e Bragança. O conhecimento do discurso do “Príncipe” gerou um ato-debate entre os mais variados grupos contra a criminalização dos movimentos sociais. E, assim, foi organizada uma manifestação. Manifestação, essa, que fugiu do controle e culminou na implosão do evento, que foi transferido para outra Faculdade da cidade. Para quem assistia o ocorrido, facilmente se lembraria da aula de Sociologia sobre Durkheim e do exemplo do vídeo da Uniban.
E foi na repercussão do acontecido que realmente achei que o Sr. tinha falecido! De um lado, alguns comemoravam a vitória, o êxito! De outro, quase um “cortem-lhe as cabeças!”. Ambos defendendo a democracia. E eu realmente comecei a me perguntar se estávamos todos realmente em uma Universidade. Depois de refletir um pouco e adicionar as experiências vividas até agora neste ano, comecei a me perguntar o que realmente é a Universidade, na prática.  Ah, como eu era ingênua em meu Ensino Médio. Ah, como eu sonhava em conhecer, em discutir, debater. Mas, cada vez mais, apenas sopros de uma verdadeira construção de conhecimento sobrevivem na Faculdade.
Vitória!? Vitória por não ouvir!? Vitória por, em vez de quebrar ideologias com argumentos, quebrá-las no grito!? E falar que isso vem de pensadores e futuros responsáveis por um país?! Ah, por favor! Ou ainda pedir o “corte da cabeça” dos responsáveis!? Muito simples, muito fácil apenas culpar um grupo de alunos, e outros se isentarem do ocorrido, sem considerar toda a profundidade do problema, e toda a podridão que mantém o Sistema do modo em que se encontra.
O problema é muito maior do que um “simples” acontecimento. O problema já está na própria estrutura das Universidades, que um dia, já foram principais formadoras de opinião da sociedade; e até na própria relação sociedade-universidade. Um exemplo disso é o modo como o Universitário é visto hoje em dia. Como uma possibilidade de crescimento para cidade, ou como investimento para o futuro do país? Não. Como o bêbado destruidor da cidade em que estuda.
É por tudo isso, Sr. Bom Senso, que  peço que reconsidere nossas ações e retorne ao nosso convívio. Precisamos do senhor na mesma proporção em que, como seres sociais, precisamos de nossas relações humanas. E, enquanto isso, temo. Temo pela sociedade, temo por mim mesma. Temo porque, se realmente o senhor está em seus últimos suspiros de vida, nossa sociedade também está.




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