domingo, 16 de setembro de 2012

Alguma justiça é melhor que nenhuma justiça?

                       No filme em questão, o protagonista Clyde testemunha o assassinato de sua esposa e filha, mas, a ambição do promotor de justiça Nick implica que um dos criminosos permaneça um curto período na prisão. O pensamento do promotor é justamente a questão aqui: alguma justiça é melhor do que nenhuma justiça? Passada uma década, Clyde mata de forma dolorosa todos que tiveram envolvimento no ocorrido, e então é preso.
                       A intenção do protagonista é obviamente denunciar a incoerência do sistema judicial americano: como um estuprador e assassino praticamente não é punido pelo o que fez? Como um promotor permite uma situação dessa? Como o protagonista consegue matar inocentes só para provar seu ponto de vista?
                       Ao meu entender, as respostas são todas uma: porque todos são seres humanos, e como tal, passíveis de erros. O primeiro, é um humano sem caráter; o segundo um humano competitivo e operador do direito; o último um humano genial ressentido. Só que o sistema jurídico, por outro lado, tem raízes na sistematicidade racional cartesiana, e o confronto desses dois aspectos de certo modo dicotômicos é violento.
                       Caberia então a substituição daquela justiça por uma relativista criacionista que é mais compatível com o aspecto humano do Direito? Ou esse traria um número ainda maior de injustiças, visto a subjetividade também inerente á qualidade humana?
                       Não consigo exprimir uma conclusão ás questões apresentadas - ainda sou humana  - mas abaixo, apresento textos que podem conduzir á uma linha de raciocínio, e, talvez uma conclusão.

"O Problema do Idealismo Cartesiano
  (...)                                                                                                              
                       Dessa maneira, o idealismo cartesiano é confinado as ideias, as representações
da mente e a sua constatação por intermédio de um processo metódico capaz de garantir
a verdade que se busca. Descartes não tem dúvida, como aponta  o professor Franklin
Leopoldo e Silva em sua obra Descartes a Metafísica da Modernidade (1993, pag.14)
        'Descartes terá sempre em mente que a solidez do saber depende da coesão e do encadeamento de todas as suas partes. Por isso ele dará ênfase no seu trabalho, ao caráter sistemático do pensamento.'
                     Descartes chega a conclusão que Deus é a garantia das representações em um
plano de clareza e distinção, por meio do método.  Não se pode esquecer que no campo
da metafísica, da matemática e da física o método defendido pela sistematicidade
cartesiana é elementar, devidamente garantido por um Deus.( ...) "



No dia 23 de fevereiro de 2003, a jovem Romina Tejerina, então com 18 anos, matou com 21 facadas seu bebê recém-nascido. Condenada a 14 anos por homicídio qualificado, ela cumpriu dois terços da pena e foi liberada há poucos dias, reacendendo um debate que dividiu a Argentina nos últimos anos.
Moradora de uma província pobre do norte do país, Romina denunciou ter sido vítima de um estupro. A gravidez não desejada foi levada adiante. Em entrevista ao jornal La Nación, pouco depois da tragédia, ela disse que só se lembrava do choro do bebê e da cara do estuprador. Era uma tentativa de colocar em palavras o inexplicável.
A recente liberação de Romina foi criticada pelos argentinos nas redes sociais. O crime de Romina mobilizou a sociedade argentina como poucos, conta Veronica Smink, jornalista da BBC, em artigo recém-publicado. Grande parte da sociedade apoiou o veredicto, no entanto, os militantes dos direitos das mulheres, apoiados por artistas e legisladores, seguiram protestando, afirmando que Romina também era vítima das circunstâncias, segundo relato da jornalista.
Não recebeu cuidados e atenção, vinha de uma origem humilde, não tinha ferramentas para lidar com uma gravidez não desejada. Ainda teve que lutar só contra a vergonha que o papel de violada lhe impunha.  Estudiosos argentinos afirmam que, na província natal de Romina, a taxa de estupros está 70% acima da média nacional e que, não raro, as mulheres são acusadas de ter provocado o estupro. No caso de Romina, um dos argumentos usados contra ela foi o fato de ela estar dançando de minissaia na fatídica noite da violência sexual. Parece filme, mas é a infeliz realidade ainda, dos nosso vizinhos, do nosso quintal. O vizinho acusado do estupro tinha o dobro da idade de Romina e chegou a ser preso, mas o crime nunca foi provado. Não fizeram exame de DNA no suspeito, não exumaram o corpo do bebê, não houve produção de provas.
O caso  Romina, a meu ver, é o exemplo de uma situação que se perpetua sem fronteiras. Um crime não justifica outro, você deve estar pensando, e eu  concordo. A história é triste do início ao fim e todos os possíveis caminhos a partir da violência seriam igualmente difíceis. Lamentável Romina não ter  tido apoio legal e psicológico para evitar a gestação decorrente de uma violência. No Brasil, um dos dois casos de aborto sem punição é justamente a violação. O tema é polêmico e não estou dizendo aqui que eu, com certeza, abortaria. São decisões pessoais, forjadas em cima de crenças e das condições físicas, psicológicas e também financeiras de cada mulher. Não sou militante de causa alguma, mas eu me pergunto por que Romina não teve acesso à pílula do dia seguinte. Por que o crime sexual não foi punido? Por que as mulheres ainda sentem vergonha de uma situação da qual são vítimas?
Medidas simples e eficazes – entre as quais destaco em primeiríssimo lugar condenação rígida de crimes sexuais para desestimular os loucos de plantão – teriam evitado o pior: o cruel assassinato de um bebê indefeso.
A história trágica de Romina acabou sendo um divisor de águas na Argentina. Em março de 2012, a suprema corte ratificou a legalidade dos abortos em caso de violação. Mas a falta de apoio a mulheres nessas situações continua em aberto."

http://colunas.revistaepoca.globo.com/mulher7por7/2012/08/01/estuprada-engravidou-e-matou-o-recem-nascido-ela-foi-condenada-o-estuprador-nao/  ISABEL CLEMENTE

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