sábado, 18 de agosto de 2012

O distanciamento do amor, da felicidade e do próprio homem.


O espírito do capitalismo está muito além do consumo em excesso, o que, na verdade, nem o define axiologicamente. A inovação desse sistema foi uma comunhão de aspectos diversos que racionalizaram a vida e principalmente a economia- termo que antes nem poderia ser utilizado como o é hodiernamente por simplesmente ser muito mais um sistema de trocas do que monetário. O mercantilismo, berço do capitalismo, é que traz a moeda, a ideia de moeda.
Como o sistema dinâmico e “caleidoscópico” que é- no sentido de conseguir combinações variadas agradáveis aos olhos, agradáveis superficialmente-, o capitalismo acaba desfigurando estigmas sociais, e um milênio de costumes e crenças. Transfigura papéis sociais, cria a instituição familiar (a faz um mercado consumidor) e prioriza a racionalidade. E este é o ponto culminante do sistema: a vida passa a ser analisada alienada do ser, como se os sentimentos trouxessem uma carga negativa, que afetaria a realidade, a produtividade e a ética. Desse modo foi criada uma nova atmosfera, onde houve uma reestruturação e nova compreensão da vida e de seus vieses. Surgem então os maiores entraves ao desenvolvimento da sociedade como “ser humano”, “ser pensante”, “ser vivo”. A doença, a justiça, a felicidade e o amor passam para o segundo plano de importância, transmutam-se em coisas concretas, inexistentes, inalcançáveis e inexplicáveis pelo fato de serem abstratos por excelência.
O homem passa a perder sua essência, suas paixões, em troca de bugigangas tecnológicas, gasta seu tempo trabalhando em coisas que detesta para comprar coisas que não precisa. Perde-se da poesia do dia-a-dia, os pequenos prazeres, e se não os temos pra que vivemos? A arte distancia-se cada vez mais, a superficialidade nas relações permeia por todos os lados. A felicidade é alcançada com produtos.
Brota uma dialética dentro do homem: a emoção e a razão estão em combates intermináveis, enquanto a razão propõe esse engessamento social, esse distanciamento que nos faz esquecer que todas as pessoas e inclusive nós mesmos não somos robôs, somos vivos.

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