domingo, 19 de agosto de 2012

Foi Deus que quis

Arrumar justificativas para os atos é uma boa ideia para livrar-se do peso na consciência, ou da culpa por tê-los feito. Não é preciso ir muito longe, é comum ouvir a frase "mas não foi minha culpa, é que..." e outras do mesmo gênero. Os pensadores ao longo dos anos tentaram adequar suas vidas à ética social vigente na ocasião, ou o contrário. Pode-se dizer que essa mesma lógica uniu o protestantismo ao capitalismo.

Uma religião que envolve a predestinação e a riqueza como sinais de uma boa resposta de Deus ao trabalho empenhado em vida, concilia os valores capitalistas de uma forma tênue. Os resultados dos esforços pessoais são colhidos aqui mesmo. Se há lucros, é por que se está seguindo o caminho certo. Se não os há é por que alguma razão há para não os merecer.

Outro ponto interessante é a valorização do trabalho e depreciação do ócio. Antes, o ócio era considerado necessário para a dedicação a atividades intelectuais, artísticas e políticas. Contrariando esse pensamento, o protestantismo afirma que o trabalho é a fonte da virtude. Deixar de trabalhar é o mesmo que desviar de um fim bom. Dessa forma, fica plausível manter funcionários com jornadas de trabalho intermináveis e salários curtos e é aceitável continuar trabalhando nessas condições acreditando que sua vida simplesmente foi planejada para ser dessa forma.

Sendo assim, a busca por um alívio da consciência dos burgueses encontrou esteio no protestantismo que, ao mesmo tempo, serviu de consolo para os operários. E é muito fácil lidar com a conformidade dos submissos, principalmente quando há razões com princípios divinos que permitem e suportam sua alienação. Só restava torcer pra nascer predestinado na próxima vez.

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