segunda-feira, 4 de junho de 2012

Radicais ou “Revolts” ?

Radicais ou “Revolts¹” ? 
            Atualmente nos deparamos com o paradoxo da superprodução e da fome, da tecnologia de ponta e da miséria, que muitas vezes passam desapercebidos pelo cidadão brasileiro comum: taxa de desemprego a 6%, 50% da população na classe média, juros a 8,5%. Todos esses fatores contribuem para que as pessoas acreditem que a economia e suas vidas vão bem. Além disso esses benefícios contribuem para a formação do imaginário ideológico do sonho americano: livre concorrência, iniciativa, trabalho árduo e pouca intervenção do Estado na economia são os pilares do desenvolvimento.

Contudo, outras partes do mundo são testemunhas da instabilidade do sistema capitalista: A Europa, baluarte do capitalismo, hoje sofre com os efeitos do sistema bancário e da especulação. Ásia e África ainda lideram a fome e a miséria em um mundo onde 1 em cada 7 pessoas não consegue se alimentar. 
Eis que surge a antítese deste sistema: os partidos de esquerda, os quais teoricamente zelariam por promover a redução das desigualdades e promoveriam o Estado de Direito, apesar de terem conseguido vitórias nas últimas eleições (por exemplo na Europa de hoje, no Brasil desde 2002.), são tachados de traidores, por não se revoltarem contra o sistema. Ora, se estão usando o próprio sistema (a dita democracia burguesa) para fazer modificações sociais, por qual motivo o implodiriam? Será que o povo apoiaria também essa mudança brusca e incerta, promovida pela extrema-esquerda? Talvez, na Ásia ou África  onde não há perspectiva ao menos de alimentação, mas na Europa apesar das dificuldades, o sistema se adaptou mais uma vez. No Brasil BRIC também não, em "desenvolvimento", sede da copa e das olimpíadas não há espaço para "malucos".
É justamente o embate entre esses dois modos de transformação que norteará esta comparação com a teoria socialista científica de Engels, discutida em "Do Socialismo Utópico ao Socialismo Científico". Para Engels, a síntese é a formadora da história humana: teses e antíteses se chocando todo o tempo e criando modificações, sínteses, que abrem caminho para novos choques. Portanto, a metafísica, a teoria, não poderia ser o motor da história, mas sim, os atos. O idealismo não seria uma ferramenta eficiente, e poderia tornar a visão dos fatos distorcida, focando-se num ponto, não poderíamos ver o quadro geral.
            Não seria justamente esse o erro da auto-declarada esquerda revolucionária no Brasil? Focar-se no idealismo revolucionário, enquanto não admite as conquistas inseridas no próprio sistema e insiste em afirmar uma antítese sem síntese? Esta antítese muitas vezes pautada numa realidade fixa, a qual, na verdade, se modificou ao longo do último século?
Agindo dessa forma, somente negando o sistema e sua transformação    e ao mesmo tempo não conseguindo cooptar pessoas para a causa revolucionária – a extrema-esquerda se enfraquece e é tida como anacrônica e esquizofrênica, enquanto poderia ser a fiscal das transformações governistas e promover ataques mais diretos ao sistema, agindo por dentro dele, através do Direito, da Democracia, da conscientização e das conquistas constantes, em vez de pregar o tudo ou nada maniqueísta habitual. Que se lute por uma economia com intervenção estatal, pelo bem-estar social, sem que sejam denominados esses agentes de pequenos-burgueses ou “sociais-democratas”, mas que essas medidas sejam compreendidas como fases de uma transformação maior, com o apoio de uma massa politizada e educada, algo que não existe hoje, como demonstrado no início do texto.
É tempo de renovação e de criação de sínteses compatíveis com os desafios do século XXI. Que admitam os erros do passado e que criem novos caminhos para o futuro de forma realista e científica, não agindo de forma passional. A esquerda tem que ser radical no sentido de ir ao ponto central dos problemas e não de ficar num guerra cega,“revoltada” contra tudo e contra todos agindo como “revolts¹”.


¹ Revolts é um termo empregado pelos jovens para descrever seus colegas que agem como se não gostassem de nada, sem uma solução aparente. Simplesmente não concordam, e agindo passionalmente não resolvem seus problemas, ficando mau-humorados com todos ao seu redor.
Será que da data da publicação desta pirâmide (1911) até hoje, não houveram modificações positivas?

Raul da Silva Carmo. Aluno do 1º Ano do Curso de Direito Noturno da UNESP Turma 2012-2016.

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