segunda-feira, 18 de junho de 2012

Herança infantil


Com a inserção da máquina no processo de produção, o homem foi de certa forma, libertado, pois aquela estabeleceu um novo referencial produtivo; todo o saber do homem havia sido transferido para a máquina equalizando as competências humanas. Para Marx, essa emancipação trouxe consigo malefícios visto que a libertação da força de trabalho do homem adulto colocou, frente aos olhos dos donos dos meios de produção, uma possibilidade de lucro maior ainda, usar a criança como força de trabalho.
Se a máquina havia emancipado a força física antes necessária, o capitalista não precisava mais pagar por uma força ociosa, a potência do homem era algo inútil. Como as máquinas, no século XIX, não possuíam a tecnologia encontrada hoje de auto programação, era preciso apenas alguém para operá-la, sem que fosse necessária a força física. A lógica de mercado é pagar por aquilo que se usa, portanto a criança era um “trabalhador” mais barato e que estaria operando um objeto com capacidade de produção maior que a dos homens.
Infelizmente, passados mais de duzentos anos dos relatos de Marx, o sistema capitalista ainda engloba a criança como força de trabalho. As condições do século XIX a que eram submetidas pode ainda ser encontrada nas carvoarias do Centro-Oeste brasileiro, pois o regime de semiescravidão das indústrias inglesas não difere muito do que encontramos hoje em nosso país. Entretanto, não precisamos sair de nossas cidades para encontrar uma criança trabalhando. Muitas vezes, as famílias sem condições para manter os filhos na escola, acaba usando-os como auxílio à renda familiar.
Encontradas nos semáforos, carvoarias, fábricas clandestinas, as crianças são retiradas da escola, a qual poderia ser uma forma de perspectiva de futuro para aquele que tem tanto pela frente. Isso acaba colocando-as mais próximas da violência e da marginalização; e contribuindo para a continuidade do processo. A criança que começa a trabalhar tem grandes chances de transmitir essa condição para os filhos, trazendo um problema social.
Em contrapartida aos trabalhos infantis ilícitos, comumente encontramos crianças trabalhando na televisão. Mesmo que não estejam sendo exploradas fisicamente, a carga de responsabilidade e a necessidade do amadurecimento precoce trazida na infância podem refletir psicologicamente no adolescente e no adulto que se formarão a partir dali. O que nos assombra é que a sociedade, os pais e mesmo a escola, aceitam de muito bom grado o fato da criança trabalhar.
Marx nos mostra uma condição no século XIX que encontramos até hoje veiculadas pelos meios de comunicação. A criança não deixou de ser uma força de trabalho e o sistema capitalista, aparentemente, não a livrará tão cedo dessa herança.

TEMA: A criança como força de trabalho

Nenhum comentário:

Postar um comentário