domingo, 15 de abril de 2012

Ponto de contradição




“Ponto de Mutação” é uma obra que levanta diversas discussões sobre a forma de perceber o mundo. De modo provocativo, apresenta, na figura da física Sonia, uma nova perspectiva que promete solucionar vários problemas sociais.
Sua proposta é abandonar a visão Cartesiana/Newtoniana do mundo como uma máquina, da qual devemos analisar e consertar as peças individualmente, com o propósito de sanar os males do todo. Ela introduz uma visão Ecológica/Sistemática da realidade, em que todos os seres e todos os objetos estão intimamente conectados entre si, na imensa teia de inter-relações que seria o Universo.
Nesse sentido, ela acusa os políticos de governar a partir da perspectiva mecanicista do mundo, que ao tentar resolver alguns problemas, acaba os aprofundando e criando novos problemas. É inegável que essa acusação, de modo geral, corresponde à realidade. Mas é ingênuo e simplista atribuir a culpa aos políticos em si. Deve-se começar lembrando que os políticos nada mais são que cidadãos que ascenderam ou buscam ascender ao poder. Dessa forma, os problemas relacionados aos políticos são, na verdade, relacionados a todos os cidadãos.
Assim, para transformar a visão política de mecanicista para sistemática, tal como é proposto, seria necessário transformar toda a população. Pois se um grupo políticos instituir mudanças como, usando exemplos do próprio filme, aumentar a taxação sobre a carne vermelha e o tabaco para diminuir seu consumo, cuidando, assim, do sistema público de saúde, a população se posicionará contra ele, e MUITO POUCO adiantaria seu trabalho, porque em breve subiria ao poder um grupo que, como espera a população em geral (ávida por resultados práticos a curto prazo) construa mais hospitais e invista em cirurgias cardíacas.
Como sugere Jack, o personagem político, parece que seria necessário um regime totalitário para por essas ideias sistemáticas em prática, pois as pessoas não vão aceitar que um homem ou um pequeno grupo político lhes diga que estão fazendo tudo errado e queira forçar-lhes a ver o que é certo. Até porque, quem pode dizer a todos o que é certo, se existem tantas opiniões e nenhuma unanimidade? E quem pode garantir que essa teoria tão bela não seria, na prática, desastrosa ou simplesmente corrompida?
Talvez seja possível tentar, experimentar, pois Edmund Burke adverte que “ninguém cometeu maior erro que aquele que não fez nada só porque podia fazer muito pouco”. Acontece que, nesse caso, o “muito pouco” seria obra de políticos/cidadãos utópicos, que não trabalhem pela manutenção de seu poder, mas pela manutenção do mundo.

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