quinta-feira, 26 de abril de 2012

Em nome do progresso


O positivismo comtiano, fundamentado na “física social”, na análise da sociedade com vistas a compreender as leis que a regem e a sanar, assim, suas patologias, no estudo unificado das ciências e na manutenção da ordem como pressuposto para o progresso, é geralmente muito criticado por seu conservadorismo, apesar de ter influenciado profundamente diversas ações no âmbito político, não só no Brasil, mas em diversos países.
Num sistema positivista, cada indivíduo deveria resignar-se à sua função, seja ela considerada mais promissora, como a de um médico ou engenheiro, ou mais submissa, como a de um lixeiro, porque todas as funções são igualmente importantes e disso depende a manutenção da ordem social, essencial para o progresso, objetivo de todos.
Com a existência, na história brasileira, de governos de inspiração claramente positivistas, como as ditaduras varguista e militar, surgiram políticas públicas importantes para a sociedade, como a criação dos Ministérios da Saúde e do Trabalho, justamente devido a essa vontade de manter a ordem. Além disso, outras das ideias comtianas parecem muito benéficas, como a reforma da educação visando a romper com o isolamento das ciências e permitindo uma análise mais correta da sociedade e a concepção da solidariedade social.
Entretanto, são ideais que não se consegue aplicar a uma sociedade marcada pela miséria, pela exploração e pela corrupção, porque, fundamentalmente pregam a manutenção do status quo, o fim da mobilidade social, a unificação de ideologias. Como querer preservar a ordem existente quando é premente a necessidade de instituir mudanças profundas? Como considerar cada ser humano simplesmente como parte de um sistema que deve ser preservado, desconsiderando as necessidades e desejos pessoais de cada um, se o que se busca é justamente o bem da sociedade? E como querer que todos acreditem numa só ideologia, quando o maior bem de uma pessoa é sua liberdade de pensamento?
De qualquer maneira, a ideologia positivista é, como toda e qualquer ideologia, detentora de uma beleza muito grande, quando na teoria, mas marcada por diversos problemas na prática, devido à incapacidade que o ser humano tem demonstrado de aplicar integralmente e satisfatoriamente tudo o que pronuncia. Mas como qualquer filosofia que predominar na sociedade tende a ser corrompida, parece mais profícuo desejar a constante mudança, como meio de gerar pequenos benefícios pouco a pouco, do que a manutenção de uma realidade social que nunca vai ser satisfatória para todos.

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