sábado, 17 de março de 2012

O sei que nada sei de René Descartes

                                             
Por mais que Descartes, em seu livro Discurso sobre o método, tenha criticado os filósofos clássicos por gerarem conhecimento inútil, estéril e sem sentido prático; não há como não comparar suas ideias com as de Sócrates, o patrono da filosofia clássica.
Assim como Sócrates, Descartes nunca se contentou com opiniões estabelecidas, preconceitos e crenças inquestionadas. Em sua obra buscou orientar a razão e assim chegar ao conhecimento pleno, verdadeiro e, antes de tudo, aplicável.
Quando menino, René acreditava que chegaria a esse conhecimento através das letras, pois assim conheceria escritos de pessoas ditas "dotadas de ciência". No entanto, quanto mais estudava e aprendia, mais constatava sua ignorância, se enchia de dúvidas e mais se distanciava da verdade absoluta.
Mais tarde, o jovem Descartes buscou conhecimento através das viagens porque achava que conhecendo diferentes povos poderia tirar algum proveito que o fizesse distinguir o verdadeiro do falso. Todavia, essa busca no "livro do mundo" não lhe deu a luz que tanto objetivava. Então, percebeu que deveria investigar dentro de si mesmo o caminho certo para a razão, o que fica claro no trecho onde cita sua terceira máxima: "procurar sempre antes vencer a mim próprio do que ao destino, e de antes modificar os meus desejos do que a ordem do mundo (...)"
Mas o que torna a obra de René tão atual, em minha opinião, é quando ele fala em "É bom saber alguma coisa dos hábitos de diferentes povos, para que julguemos os nossos mais justamente e não pensemos que tudo quanto é diferente dos nossos costumes é ridículo e contrário à nossa razão, como soam fazer os que nada viram". Pois no mundo em que nos encontramos, o multiculturalismo tem sido alvo de revoltas e perseguições. Como exemplo, a Europa que virou  palco de intolerância e conflitos contra estrangeiros, principalmente muçulmanos e africanos. Tanto para Sócrates quanto para Descartes, o homem tem que ir além da aparência e dos sentidos, ou seja, abolir preconceitos. Logo, quando a humanidade tomar consciência de que sabe que nada sabe, talvez, poderá respeitar as diferenças, as particularidades e os costumes de outras culturas.

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