domingo, 23 de outubro de 2011

Valores Invertidos


Para o sociólogo Nildo Viana, "o valor é algo significativo, importante, para um indivíduo ou grupo social". Mantendo essa denominação de valor, será que, hoje como sociedade moderna, vivemos e pensamos assim? Penso que em partes. O valor, atualmente, é mais associado com o individualismo. A antiga burguesia da época moderna deu início a esse aspecto e nós o mantivemos até hoje. Partindo das ideias defendidas por Max Weber em “Economia e Sociedade”, vemos valores como os sentimentos afetivos, amigos e familia sendo substituidos por meros caprichos valorativos no sentido econômico da palavra. Como disse Oscar Wilde: “Hoje em dia conhecemos o preço de tudo e o valor de nada.”
As relações sociais são marcadas pelo dinheiro. E contrato virou sinônimo de liberdade. O que antes era esquecido por laços de amizade ou laços consanguíneos, hoje perde-se na avareza do homem e inverte-se dando lugar a laços de amizades e consanguíneos perdidos. Valores invertidos e desperdiçados. Como diz a música “Utopia” do Padre Zezinho: “Correu o tempo / E eu vejo a maravilha / De se ter uma família / Enquanto muitos não a tem / Agora falam / Do desquite ou do divórcio / O amor virou consórcio / Compromisso de ninguém”.
O surgimento dos contratos trouxeram inúmeros benefícios para a sociedade. Além de ampliar a relação econômica dos indivíduos, gerou a solidificação dessas relações perante aquelas antigas baseadas em mágicas ou coisas do além. O Direito foi criado para sustentar essa nova modalidade econômica e trazer segurança aos envolvidos. Agregada a isso tudo surgiu uma nova liberdade, mais ampla e de inúmeros sentidos. Se o contrato requer regras, como pode instituir liberdade? Essa é a “mágica” capitalista, que faz com que o indivíduo tenha tranquilidade mediante assinatura num papel sem ter qualquer tipo de confraternização com a outra parte contratante.
Pode ser estranho pensar nisso, mas o bom e o ruim andam de mãos dadas em todos os sentidos. Criamos uma situação de segurança econômica, mas geramos uma sociedade individualista e destituida – perante a antiguidade – de relacionamentos mais íntimos. Será que valeu a pena e está valendo a pena?
Deixo uma reflexão, uma citação de Albert Einstein: “Não basta ensinar ao homem uma especialidade, porque se tornará assim uma máquina utilizável e não uma personalidade. É necessário que adquira um sentimento, senso prático daquilo que vale a pena ser empreendido (...)”. Tornaremo-nos máquinas ou já nos tornamos?


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