domingo, 14 de agosto de 2011

"religião secular do trabalho” - Albert Curry Winn

O livro “A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo” de Max Weber tem como cerne a compreensão do capitalismo a partir do desenvolvimento da ética protestante, analisando as conseqüências culturais e econômicas decorrentes da reforma protestante.

Faz-se mister, inicialmente, depreender a respeito do movimento protestante, cujo surgimento deu-se com a Reforma, iniciada por Martinho Lutero, como crítica ao Catolicismo. Ressalta-se que essa reforma foi impulsionada tanto por motivos religiosos quanto econômicos e políticos. No que tange ao plano econômico, a ética católica condenava a usura, contraponde-se, portanto, aos preceitos capitalistas. Desse modo, era imprescindível, para a burguesia, a criação de uma nova ética religiosa que se adequasse ao seu espírito capitalista. Tem-se, assim, como resultado, a ética protestante, baseada, principalmente, no conceito de predestinação em que somente Deus decide quem será salvo ou não. Essa doutrina diverge totalmente dos dogmas católicos, pois a salvação do homem não é garantida por suas boas ações.

Todavia, a predestinação expõe o indivíduo a uma angústia constante pelo fato de que o seu destino é imutável. Assim, com o intuito de minimizar o sofrimento do fiel, formulou-se a concepção de que o êxito profissional tornava-se uma conformação da salvação. Infere-se, pois, que a riqueza é o sinal da salvação.

Como um dos resultados dos preceitos protestantes, tem-se a racionalização da vida. Vale ressaltar que há diversas vertentes relacionadas ao protestantismo, tais como: Luteranos, Calvinistas e Puritanos, cada qual com seus ideais. Entretanto, foram os puritanos que integraram a racionalização em seu estilo de vida, a partir da harmonização da vida cotidiana com suas convicções religiosas.

A influência do estilo de vida puritano, centrado na concepção de vocação, dignificação do trabalho, favoreceu o desenvolvimento de uma vida econômica racional e burguesa. Nota-se, pois, que o capitalismo fora, em grande parte, resultado imprevisível e indesejado da Reforma.

Impende ressaltar que o espírito capitalista não decorre pura e simplesmente da persecução do lucro, mas, sim, principalmente da dinamização racional do investimento, decorrente, entre outros fatores da racionalização contábil, resultante da diferenciação de um Patrimônio particular no universo dos patrimônios existentes, conforme previsto, atualmente, na Resolução do CFC nº 750-93, Princípio da Entidade; da racionalização científica, cujo desenvolvimento capitalista está intrinsecamente relacionado à evolução científica, visto que aquele aplica as novas técnicas e conceitos na economia; da racionalização jurídica, na qual foram desenvolvidas estruturas que possibilitassem o desenvolvimento capitalista; e, por fim, a racionalização do homem.

Nesse cenário, surge um embate cultural travado pelo tradicionalismo e o espírito capitalista. O primeiro tem como objetivo principal a sobrevivência enquanto que o segundo baseia-se na acumulação de capital.

Verifica-se, hodiernamente, o predomínio do espírito capitalista. Corrobora-se, tal afirmação, a partir da constatação da própria sociedade. O reconhecimento do sucesso de um indivíduo baseia-se primordialmente em seu sucesso econômico, elaborando-se, para isso, até mesmo um ranking mundial das pessoas mais ricas e, consequentemente, influentes do mundo, o que é um despautério. Ademais, os valores são criados ao encontro desse espírito, ou seja, a valorização da educação não está relacionada, principalmente, com a evolução intelectual e, por conseguinte, espiritual do indivíduo, mas, sim, com o intuito de ampliar as possibilidades de sucesso profissional do mesmo. E mais, a escolha da profissão é pautada na perspectiva de riqueza.

Outrossim, os mercados financeiros, a estrutura jurídica, os valores, as políticas públicas, tudo foi desenvolvido e aperfeiçoado para a intensificação e o progresso do capitalismo. Além disso, os meios de comunicação recrudesceram os ideais capitalistas.

Contudo, a propagação desses ideais contribuiu para o aumento das desigualdades sociais, na marginalização e exclusão dos indivíduos, no aumento da violência, na redução da qualidade de vida pela maior parte da população, entre vários outros aspectos negativos presentes na sociedade.

Impende, portanto, retomar e disseminar novas concepções que favoreçam o aspecto mais humano da sociedade, a fim de reduzir o abismo existente entre os indivíduos. Sabe-se, porém, que tal feito é quase impraticável, haja vista os interesses escusos de uma minoria elitista.

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