sábado, 18 de junho de 2011

A permanência do adaptável

Ao elevar-se a demanda dos novos e cada vez mais numerosos mercados, entra em decadência o sistema de produção medieval, restrito à subsistência dos feudos e submetido ao monopólio da ociosa e improdutiva classe aristocrática. Para suprir as recentes necessidades de consumo ao redor do mundo, fez-se imprescindível o domínio de líderes empreendedores, voltados a constantes inovações nas relações sociais em prol do ativismo e da produtividade de todos dentro do meio social.

As inovações tecnológicas promovidas posteriormente pela burguesia na indústria moderna, exercem imensurável coerção sobre todas as nações, incluídas praticamente em sua totalidade no novo modo de produção. O desenvolvimento, então, de um mercado globalizado, favorece evoluções nos meios de comunicação e comércio, que, em um círculo vicioso, promove a expansão da indústria e, com ela, do poder da classe burguesa, que se expande e instala-se por um território cada vez maior. Antigas indústrias nacionais, com seus produtos finais constituídos a partir de matérias primas locais, são extintas, substituídas por indústrias estrangeiras e produtos provenientes das mais remotas localidades, no processo de surgimento de um universo interconectado.

A partir de um certo momento, no entanto, a burguesia e o capitalismo por ela implementado passam por algo jamais imaginado anteriormente: uma crise de superprodução. Com a indústria e o comércio superdesenvolvidos, o mercado se torna insuficiente para absorver tudo o que é produzido. De acordo com Marx e Engels, no Manifesto Comunista, essa teria sido uma das condições criadas pelos burgueses que proporcionaria a sua própria derrocada político-econômica. É nesse ponto que se torna oportuno ressaltar o histórico de uma das mais devastadoras crises já vividas durante o sistema capitalisa: a crise de 1929. Com a recuperação da economia europeia das fatalidades da 1ª Guerra Mundial, o maior mercado para os produtos estadunidenses sofre constante retração, desenhando a situação supramencionada. Ademais, são aspectos ressaltados como razão da referida crise os lucros originados da produção acelerada, que, mal redistribuídos no mercado, impediam uma elevação comparável no consumo, entre diversas outras causas, de variadas origens.

Frente a tal ameaça, na tentativa de superar a crise econômica sem o sacrifício do capitalismo, o eleito presidente Roosevelt, substitui a política liberal americana por um maior intervencionismo, no qual o Estado não permite que a economia guie-se livremente pelas circunstâncias do mercado. Para o processo de recuperação da economia norteamericana, cria-se programas de ajuda social, órgãos governamentais que empregassem trabalhadores na área de construção, regulassem a produção agrícola e supervisionassem reformas no sistema financeiro e trabalhista. Unida a demais adaptações, a substituição, como um todo, da face liberal do capitalismo por ações intervencionistas permitiu a superação da crise de superprodução como uma das crises do capitalismo, a recuperação gradual da economia americana e a perpetuação do sistema capitalista em seu território e naqueles por ela influenciados.

Assim como ilustrado pela crise de 1929, da mesma maneira que a ascensão da classe burguesa se dá por sua postura revolucionária em relação a concepções políticas, econômicas e sociais aparentemente inalteráveis, em meio às quais vivia, sua perpetuação e a do sistema que sustenta também se dará através de adaptações por ela promovidas ao longo do processo histórico. Desprovido de relações dogmáticas, o capitalismo, apesar dos inúmeros prejuízos que possa trazer, permanecerá vigente enquanto capacitado a renovar-se, moldar-se às condições que lhe sejam impostas.

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