domingo, 12 de junho de 2011

O polvo




A partir da consolidação do capitalismo, elementos intrínsecos da vida humana passaram a ser mercantilizáveis. Foi acrescentado um enorme sentido mercadológico à religião, à política e às relações sociais.

O jogo de conveniências mercadológicas superou a necessidade e a vontade humanas. A religião, por exemplo, em muitos casos, teve seu sentido de apoio espiritual subvertido e transformou-se em um estabelecimento comercial (claro que há exceções, mas como negar que grupos religiosos enriqueceram exercendo atividade comercial? A rede Record de televisão é um exemplo vivo).

Quanto às relações sociais, o virtual vem massacrando o real. Quem ainda resiste ao Facebook? Quantos amigos você encontra durante o dia? E nesse mesmo dia, com quantos seguidores você conversa? Os avatares suprimem as pessoas de carne e osso. E isso atende uma necessidade do mercado (com isso, o Google fatura números exorbitantes).

Em relação à política, houve uma descaracterização ideológica e, atualmente, qualquer pseudocomunista compra uma camiseta com a figura de Guevara. A questão não é mais política e sim mercadológica; o objetivo não é mais discutir um ponto de vista, mas sim parecer integrado ao contexto. A aparência suprime a essência.

Tal situação artificial é aceita e desejada, uma vez que nela estão elementos encantadores (inovações tecnológicas). Quem está ás margens do sistema, quer ser englobado por ele. Parece-me que a antítese não mais pretende destruir a tese, mas sim ser absorvida por ela. Não há uma realidade anticapitalista, mas sim uma vontade de fazer parte desse sistema.

Aproveitando o clima junino, um trecho da música de Dominguinhos e Nando Corde que representa essa interpretação é: “Olha isso aqui tá muito bom, isso aqui tá bom demais. Olha quem tá fora quer entrar, mas quem tá dentro não sai”. O sistema é apaixonante (capaz de oferecer oportunidades e tecnologias encantadoras, em tese). Aquele agarrado pelo polvo capitalista valoriza ferrenhamente suas qualidades; já aquele excluído de seus benefícios, ao invés de tentar assassinar o molusco, reza para ser o próximo preso pelos seus tentáculos.

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