domingo, 19 de junho de 2011

Guias da ação social

Críticos e pensadores houveram, em número considerável, que em meio a análises do meio social, visando a explicação de ações humanas, coletivas ou individuais, valeram-se de conceitos generalizadores e proposições de causas determinadas por aspectos do ambiente em que se vive. Como expoentes de tal corrente criticados por Max Weber figuram Karl Marx e Friedrich Engels, na posição de propositores do que o intelectual define como dogmatismo do materialismo histórico. Na linha de pensamento weberiana, descarta-se qualquer determinismo científico, incluindo a concepção de mundo marxista, que atribui exclusivamente a fatores econômicos a causa de fenômenos históricos e sociais. Tal postura, na visão ponderada de Weber levaria a ciência social a, inadmissivelmente, satisfazer-se com hipóteses parciais e estéreis em sua pesquisa, tendendo a concepções dogmáticas.

Não apenas o materialismo histórico de Marx e Engels, no entanto, enquadra-se no âmbito de visões generalizadoras do fenômeno social, que propõem a ele causas únicas e determinadas. O positivismo, representado não somente por Auguste Comte e Émile Durkheim, mas também pelo historiador Hippolyte Taine, reduz o indivíduo e suas atitudes, em particular no parecer deste último, a meros produtos do meio onde vive. Na tese determinista de Taine, da qual se utiliza Aluísio Azevedo na composição de sua obra realista “O Cortiço”, a compreensão do ser humano embasa-se em três fatores: meio ambiente, raça e momento histórico. A depender destes, o indivíduo poderia demonstrar as mais diversas formações de caráter e os mais distintos comportamentos. Assim, como exemplo mais visível na referida obra brasileira, tem-se Jerônimo, português tradicional, disciplinado e fiel à esposa, que, ao instalar-se na precária habitação coletiva, transforma-se por completo, mudando comportamentos e hábitos alimentares e chegando a abandonar o casamento para unir-se à mulata Rita Baiana.

Tanto frente ao pensamento marxista quanto ao positivista, contudo, é necessário que, assim como Max Weber, ponderemos nossas análises de fenômenos históricos e sociais. Evidentemente, a conjuntura política, econômica, cultural, entre outras, exerce grande influência na estruturação da sociedade como um todo, mas não podemos deixar de considerar a questão das individualidades e o que disso decorre. Em um exemplo prático, o contexto no qual se encontram os mais desfavorecidos economicamente, de fato tem o poder de prejudicar fortemente suas formações educativas e diminuir suas oportunidades de sucesso profissional. Ainda assim, não deixam de existir casos, mesmo que raros, nos quais, por esforço próprio, alguns vencem as adversidades impostas pelo meio, podendo ultrapassar até os que constantemente encontraram-se em situação mais vantajosa. Na realidade do mundo atual, portanto, faz-se presente todo tipo de exceção. Não é aceitável que as desconsideremos em benefício de generalizações e estereótipos que tornariam mais compreensível, porém, ao mesmo tempo, mais simplista, a análise sociológica. Afinal, se o objetivo vislumbrado é o desenvolvimento e evolução da sociologia como ciência empírica, intolerável seria a utilização de explicações universais já previamente estabelecidas e concebidas como imutáveis.

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