domingo, 1 de maio de 2011

A Sociedade Harmônica

Em um relógio, cada engrenagem funciona ligada a outra, cada peça em seu lugar exato, realizando um trabalho perfeitamente rítmico. Em uma melodia, várias notas, escolhidas não de forma aleatória, quando juntas, formam um acorde; que, em uma sequência definida, desenvolvem um arranjo. Por último, em uma obra de arte (um quadro, por exemplo), as cores que ali são postas devem ser previamente escolhidas e não podem ser misturadas de qualquer forma; deve haver uma moderação, um bom-senso, que criará a perfeita combinação, definindo imagens e sensações a serem passadas. Em todos estes exemplos, cada unidade menor está ligada à outra, de forma a trabalharem juntas, harmonicamente, co-operando para que a unidade maior seja eficiente.

De acordo com Comte, é dessa forma que deve agir a sociedade. Cada peça é de extrema importância, devendo ocupar sua posição para o bem-comum, que será, por consequência, o melhor para si mesmo. É com esse pensamento que Comte classifica a sociedade em duas ordens: Empreendedores e Operadores Diretos. Os empreendedores seriam aqueles que exercem cargos administrativos, executivos, ou que necessitem de qualquer preparo intelectual profundo para o desenrolar do processo (ex: o engenheiro e seu projeto). Os operadores são os trabalhadores braçais, responsáveis pela parte material (ex: o pedreiro e o edifício). Um não pode operar sem o outro. Dessa forma, cada indivíduo possui seu lugar na sociedade, sendo todos extremamente necessários.

É feita então a crítica: “Como pode alguém justificar a diferença de classes utilizando de um método tão frio? Como pode alguém justificar a desigualdade e a exploração?”. É interessante pensarmos que a teoria Marxista está tão arraigada em nossos pensamentos, que não somos capazes de olhar para o assunto sem pensarmos que o patrão é um explorador, sugador de mais-valia. Não se trata de uma exploração, muito menos uma “seleção natural”, apenas deve-se entender que cada indivíduo é apto para um tipo de trabalho. Nem todos podem ser o ponteiro, ou o Fá menor, ou ainda o vermelho. Não há vagas suficientes para todos na universidade, e nem seria viável criá-las. Tal experiência já foi realizada na Alemanha e na Argentina, mostrando-se uma catástrofe. Nem todos podem ser patrões, e nem todos podem ser empregados. Apenas com um mínimo de diferenciação haverá harmonia. Auguste Comte olha para a realidade e avalia que diferentes necessidades clamam por diferentes elementos capazes de supri-las.

Por fim, ainda é relevante registrar que Comte não considera o proletário como a classe que mais se desgasta. Enquanto um pedreiro realiza grande esforço físico ao edificar uma parede, um engenheiro é responsável por toda a obra de uma só vez. As responsabilidades do patrão são tão maiores, exigindo tremendo esforço mental e dedicação, que este acaba por entregar maior vigor na produção. Tal fato justifica o salário deste ser superior ao daquele. Outro exemplo poderia ser o de um balconista de supermercado e seu patrão. Enquanto o balconista deve trabalhar 6,7,8 horas por dia, o dono do supermercado, ainda que faça um horário fixo, acaba por se concentrar nos problemas da empresa além de seu expediente. Basta vermos qual grupo costuma levar trabalho para casa, ou está mais vulnerável a sofrer de estresse e problemas cardíacos.

É com esta análise que chegamos à conclusão de que a sociedade só será próspera com a organização harmônica de seus indivíduos. Cada elemento encaixado em seu devido espaço, podendo realizar aquilo que melhor sabe fazer. Não podem todos realizar a mesma função. Vale reforçar, há diferentes necessidades, com diferentes indivíduos capazes para supri-las. Essa diversidade é essencial. É ela que cria a precisão do relógio, a sonoridade da melodia e a beleza do quadro.

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