Qual a função social do trabalho? Em cima deste questionamento Durkheim tece uma análise sobre o papel do trabalho e a divisão deste, além dos seus reflexos na sociedade.
Para Durkheim, o trabalho exerce uma função social chave, sendo elemento de harmonização e sincronicidade dentro de uma sociedade. Ou seja, o trabalho serve como meio de manutenção de um corpo social saudável. O sociólogo acredita que o trabalho responde a algo muito maior que o sistema produtivo, mas cumpre a função de ligar homens e mulheres a algo muito mais amplo, ou seja, estaria ligado a um sentido moral, que vai muito além de seu sentido meramente econômico.
Ainda sob essa perspectiva moral, Durkheim afirma que a divisão do trabalho é, de antemão, provinda de uma divisão social pré-existente. Ou seja, as diferenças que existem entre determinadas ocupações se dão porque existem, anteriormente a elas, diferenças dentro da sociedade que as pré-determinam. Além do mais, os indivíduos se submetem às ocupações mais ou menos privilegiadas pois estes estão conscientes de que devem, dessa maneira, exercer sua função social. Em suma, mesmo aqueles que ocupam cargos considerados de baixo escalão, que consistam em trabalho braçal por exemplo, estão resignados a isso pois aceitam que, dessa forma, estão colaborando para o bom funcionamento do corpo social. O sentido moral que Durkheim atribui ao trabalho justifica a capacidade de um progresso tecnológico e científico permanente em uma sociedade ainda que alguns devam assumir papéis inferiores e sejam excluídos de seu núcleo pensante.
É por este motivo que, para Durkheim, a divisão do trabalho não tem a ver pura e simplesmente com o desenvolvimento científico e tecnológico ou com a industrialização. Pelo contrário, tem um aspecto moral que torna as pessoas solidárias ao ponto de se resignarem a lugares sociais inferiores em prol do bem coletivo. É com base nesse preceito que ele acredita existir uma chamada Solidariedade Social, ou seja, abdica-se do individualismo pelo coletivismo. Seria cabível essa ideia nas sociedades pré-modernas? Talvez tenha havido uma ingenuidade no pensar do sociólogo, como se pode provar pelos moldes atuais de "pensamento coletivo", que é praticamente inexistente.
A ideia de consciência coletiva é um elemento chave no pensamento de Durkheim. Essa ideia de prevalência não do indivíduo, mas da sociedade, aproxima-se do socialismo. O sociólogo era visto na sociedade francesa como socialista, e o próprio se auto-qualificava como tal, porém não no sentido marxista, mas como reformador social, pois acreditava que as transformações sociais eram um caminho para se construir uma sociedade nova que se encaminhasse para a justiça social.
Durkheim acreditava que, nas sociedades onde as diferenças sociais são mínimas, como na de judeus, hebreus etc., todos seguem os mesmos preceitos, mesmas regras de conduta, e esta adesão é mecânica, sendo que todos são punidos da mesma maneira, quem quer que tenha cometido algum crime. É a sociedade na qual predomina o direito repressivo. Dela podemos tirar o exemplo da Lei de Talião: "olho por olho, dente por dente." Já naquelas nas quais pensamentos distintos coexistem, bem como religiões e crenças diversas, predomina o direito restitutivo, que faz o papel da profilaxia, e os indivíduos realizam sua função social não de forma mecânica, mas orgânica, ou seja, em resposta a certos preceitos éticos de maneira racional, visando o equilíbrio do todo, do corpo social. Na primeira delas, Durkheim aponta existir uma solidariedade que ele nomeia de mecânica; enquanto na segunda, de solidariedade orgânica.
Enfim, Durkheim faz uma análise sociológica fundamentada no papel que cada sociedade e indivíduo cumprem, ou seja, fundamentada no funcionalismo social. Suas ideias aproximam-se com as de Comte, e por isso também pode ser considerado um autor positivista. Sua obra, embora haja muitas críticas sobre seu conteúdo, ainda é atual e serve de embasamento para diversas análises sobre a sociedade contemporânea.
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