segunda-feira, 2 de maio de 2011

Discurso sobre o Espírito Positivo, Augusto Comte.

Nesse discurso, Comte explica que a instituição da sociedade positiva daria-se, a princípio, através do estabelecimento de um sistema universal de educação científica. Esse sistema deveria ser universal porque, ao educar positivamente também o proletariado, tornaria-o consciente da importância de seu papel social, e, por isso, resignado, por vontade própria, a exercê-lo - condição necessária para a consubstanciação da paz imposta pela ordem, objeto de desejo do autor. Continuando seu raciocínio, Comte diz acreditar também que o proletário estaria até mais preparado para absorver esse tipo de conhecimento do que os membros da classe dominante, tanto por não ter sido "contaminado" pela perspectiva metafísica, que moldava a educação daqueles, quanto por estar, pelo tipo de atividade que exercia, de natureza manual, mais conectado ao mundo "real".

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Mas a maior resistência ao estabelecimento desse novo modelo filosófico, dizia ele, viria dos próprios cientistas. Muito influenciados pela fragmentação do conhecimento, somente com dificuldade eles aceitariam a visão unitária da investigação científica, idéia que também era parte da proposta de Comte.

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Que termina o discurso analisando os tipos de conhecimento e de que forma cada um se conjugaria na composição do modelo da educação positivista.

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Sobre o exposto, alguns comentários superficiais:

1 - É verdade que a sociedade precisa de indivíduos dispostos a exercer todos os tipos de trabalho, pois todos são necessários a sua dinâmica. E digo isso sem estabelecer nenhuma valoração entre esses tipos de trabalho, pois sei que uma sociedade sofre se lhe faltam engenheiros ou cientistas, e sofre também se o que lhe falta são operários. Basta ver, por exemplo, que muito se discute no Brasil a carência de engenheiros e, antagonicamente, a Europa, até pouco tempo atrás, importava operários...

2 - Por sorte, a natureza das pessoas é serem elas impadronizáveis, de modo que seria capaz de existir, para todos os níveis de trabalho, indivíduos dispostos conscientemente a preenchê-los (*). O que não ocorreria sem mancha, entretanto, em sociedades que não conseguissem estabelecer condições para o livre florescimento dos interesses de todos seus membros, independente, por exemplo, da classe de origem. Mas, tratando a questão de forma idealizada, pode haver e não deve ser vítima de julgamento a pessoa que deseje ser cientista ao invés de operário ou engenheiro ao invés de cientista, e, assim, uma sociedade pacificada não seria uma em que todos exercessem a atividade considerada a "melhor", e tivessem o espírito moldado pela cultura considerada a "melhor", mas a em que cada indivíduo, dentro da sua "função" e "personalidade", pudesse ser respeitado enquanto "funcionário" e "pessoa" (respeitado em todos os sentidos, do moral ao econômico). Isso parece ser, com um pouco de adaptação, o que comte propunha.

3 - Alguns, entretanto, podem confundir esse pensamento com a realidade e usa-lo demagogicamente para justificar cenários geradores de desigualdade.

4 - A idéia de que toda função é necessária à dinâmica eficaz da sociedade não pode ser reduzida a comparação indigna de pessoas à peças de relógio.

5 - Se não existe almoço grátis, não sei como seria possível garantir, economicamente, o respeito mínimo que os executores de trabalhos desvalorizados pelo livre mercado merecem.

6 - Talvez pela tutela do estado, o fortalecimento de sindicatos e a execução de projetos sociais.

7 - Dito tudo isso, acredito, de MODO SUPERFICIAL, que algumas das coisas que entendi que Comte observa não são falsas, mas a leitura delas deve vir sempre preenchida e nunca afastada de valores como o respeito à dignidade das pessoas, a valorização da justiça e da liberdade, o combate à exploração e ao preconceito, a luta pela eliminação das desigualdades, etc, pois a aceitação extremista, demagógica ou acrítica de tais idéias pode ser desastrosa.

(*) Quando falo de níveis de trabalho, me refiro, claro, a regimes de trabalho, como, por ex, regime de trabalho intelectual e operacional. Claro que existem formas trabalho as quais nenhuma pessoa vai de certo querer praticar se tiver outra opção. Algumas delas, entretanto, foram substituidas por máquinas e pode, quem sabe, chegar o dia em que o homem estará livre em todas da necessidade executá-las com as próprias mãos. Desse modo, existiria talvez um cenário onde os tipos de trabalhos que precisem ser feitos sejam aqueles com ao menos algum componente intelectual, como, por exemplo, o dos engenheiros, operadores, construtores, artistas e servidores. O que quis dizer, basicamente, é que acredito que existem pessoas que não desejariam atuar na sociedade com uma função intelectual de eminência, como a de um cientista, e que isso não deve ser um problema para a consolidação da igualdade social.

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